Marcos é maestro e toca saxofone. Convive com problemas no ouvido desde a infância e hoje tem 48 anos. Quando criança foi submetido à 3 cirurgias, duas em um ouvido e uma do outro lado. Ainda na adolescência outro médico lhe informou que ele teria que fazer uma segunda cirurgia, pois sua doença não tinha sido totalmente controlada no ouvido esquerdo.
Entretanto a lembrança dos dias ruins da infância, junto com o medo de perder a audição que ele ainda tinha, o fez fugir dessa indicação.
Alguns exames me mostraram que ele tinha um colesteatoma à esquerda, que ocupava grande parte do seu ouvido médio, destruía seus ossículos da audição e também já atingia seu labirinto.
Após compreender que ele corria risco de perder completamente a audição, desenvolver uma meningite ou um abcesso no cérebro, Marcos finalmente decidiu ser submetido à mais uma cirurgia.
Dentre as doenças que podem comprometer a audição, a otite média crônica colesteatomatosa merece especial atenção. Para os pacientes não é diferente, já que a prevenção nesses casos é fundamental. De fato, por vários fatores que explicarei abaixo, o colesteatoma é uma doença perigosa, mas sobretudo evitável.
O que é o colesteatoma?
O colesteatoma é uma massa composta de pele (tecido epitelial) que se forma dentro do ouvido, para dentro do tímpano.
As superfícies internas da orelha média são normalmente cobertas por mucosa do tipo respiratório, como a que revestem por dentro a boca, a garganta, o nariz e os pulmões.
Uma vez formado o colesteatoma, sua tendência é de crescimento contínuo. Seu poder destrutivo vem de três fatores: seu crescimento e compressão das estruturas vizinhas, a produção de enzimas capazes de destruir tecidos e a participação de bactérias causando infecção e inflamação crônicas.
Há dois tipos de colesteatomas: os adquiridos e os congênitos. Falaremos mais aqui dos colesteatomas adquiridos já que esses são muito mais comuns que os colesteatomas congênitos.
Qual a origem do colesteatoma?
Embora haja grande discussão entre especialistas sobre sua real origem, os colesteatomas adquiridos costumam surgir em pacientes com história de otites crônicas ou de repetição, em que há perfuração ou retrações da membrana do tímpano.
Nessas circunstâncias, cria-se condições para que a pele que cobre a superfície do conduto auditivo externo migre para a região interna ao tímpano (ouvido médio), onde ela não deve estar presente.
A partir dai, por mecanismos não totalmente explicados, essa pele passa a se proliferar num crescimento em camadas semelhante a estrutura de uma cebola, uma camada de pele sobre a outra, de forma interrupta.
Sintomas e riscos do colesteatoma
Os colesteatomas pequenos e ainda iniciais podem apresentar poucos sintomas, ou mesmo nenhum. A medida que a doença caminha é comum que haja episódios de saída de secreção pelo ouvido, com um odor forte e característico.
Dependendo da maneira que o colesteatoma se distribui e quais estruturas ele afeta, podem surgir perda de audição, zumbido e mais raramente dor.
Nos casos muito avançados, em geral em pacientes com pouco acesso a cuidados de saúde, o colesteatoma pode levar a consequências graves como a paralisia facial, meningites e abcessos cerebrais.
Nesses casos de complicações cerebrais, pode haver risco de morte.
Como é feito o diagnóstico do colesteatoma?
Em muitos casos podemos fazer o diagnóstico do colesteatoma no consultório, colhendo o histórico dos sintomas e examinando o interior dos ouvidos.
Atualmente dispomos de microscópios e endoscópicos especiais que permitem a inspeção do ouvido e do tímpano com imagens de grande qualidade.
Também é comum solicitarmos em caráter complementar, audiometria e tomografia computadorizada do ouvido para avaliarmos as consequências auditivas e a extensão da doença.
Como evitar o colesteatoma?
Com a exceção do raro colesteatoma congênito, uma grande parte dos colesteatomas pode ser evitada.
Para que ele se desenvolva é necessário tempo. O acompanhamento de perto dos casos de otites, com visitas de controle ao otorrinolaringologista, quase sempre pode identificar essas alterações, como perfurações ou retrações do tímpano.
Uma vez identificadas, essas condições devem ser corrigidas ou acompanhadas de perto.
Qual é o tratamento para colesteatoma?
Uma vez instalado, não existe possibilidade de cura com medicamentos, sendo o tratamento ideal do colesteatoma, quase sempre cirúrgico.
Entretanto, pacientes mais idosos ou portadores de doenças mais graves podem não ter condições de se submeterem à cirurgia, devendo ser acompanhados e tratados clinicamente de forma paliativa.
A cirurgia indicada pode ser a timpanoplastia ou a timpanomastoidectomia, além de suas variantes técnicas.
Esses são procedimentos cirúrgicos de proporções microscópicas e bastante delicados. Devem ser realizados por cirurgiões com extenso treinamento e experientes em cirurgia otológica.
Uma novidade de destaque surgida nos últimos anos é a introdução do endoscópio na cirurgia do colesteatoma.
Este vem se somar ao microscópio cirúrgico como ferramenta de visualização. Seu uso vem auxiliando bastante na exploração das regiões de mais difícil acesso na anatomia interna do ouvido, ajudando a evitar recidivas causadas pela remoção incompleta do colesteatoma.
Pós operatório do colesteatoma
Para o paciente o pós-operatório costuma ser tranquilo. O retorno às atividades de trabalho ou estudos acontece cerca de uma semana após a cirurgia.
O cuidado mais importante nos casos de colesteatomas é o acompanhamento de longo prazo, uma vez que pode levar um ano ou mais para termos a certeza que a doença foi totalmente debelada.
E mesmo assim, não são raros os casos em que o paciente pode precisar outras cirurgias, seja pra remoção complementar da doença, seja para tentar melhorar a audição alterada pelo processo inflamatório crônico que o paciente viveu por longo tempo.
Dr. Luciano Moreira – Otorrino – Rio de Janeiro
Posso fazer a cirurgia de implante coclear? Dr. Luciano Moreira
33 comments
Ano passado senti umas fincadas leves no ouvido Esquerdo, o ouvido bom que uso AASI.
Fui correndo ao Otorrino e ele fez limpeza e saiu peles.Eu pedi, isso mesmo eu que pedi.Uma Tomografia então eu fiz uma com ênfase nos ouvidos e lá estava o colesteatoma.
Fui encaminhada para um Otorrino especialista em Audiologia e nesse tipo de cirurgia aqui em Belo Horizonte.
Foi marcada imediatamente. Pois eu tenho uma doença autoimune chamada Granulomatose de Wegener (atualmente em controle), doença essa que me tirou audição há 5 anos.
E também muito pouco conhecida entres os otorrinolaringologistas do Brasil. Uma pena, pois ela ataca rins, pulmão, e vias aéreas como nariz, seios da face e ouvido.
Operei 2 vezes naquela época, sem o otorrino saber o que era. Depois fui para uma longa internação e uma Reumatologista me salvou com o diagnóstico e tratamento correto.
Voltando ao colesteatoma eu operei em abril de 2014.O Otorrino ainda pediu , sabiamente a presença de uma Neurologista e uma máquina na qual monitorava durante a cirurgia quando se chegava perto do nervo facial . Pois eu já tinha tido paralisia facial há 5 anos, que voltou com exercícios e corticoides.E também não queria perder o resto de audição que tinha.
Correu tudo bem.Não deixo cair água no ouvido de jeito nenhum na hora de lavar os cabelos e evito mergulhar, segundo ele só daqui dois anos.
Gostaria de saber se vocês do Portal Otorrino já trataram ou tiveram algum paciente com Granulomatose de Wegener???
Faço parte de um grupo de pacientes, uma fez IC.
Desde já agradeço,
Greiziane Soares-Belo Horizonte-MG
Olá Greiziane,
A granuomatose de Wegener felizmente é rara. Tive oportunidade de ver dois casos que de acometimento no nariz ainda na minha época da residência. Desde então não tive nenhum outro caso.
Grande abraço,
Luciano Moreira
Tive um colesteotoma bem agressivo, perdi audição, fistula no labirinto, tenho zumbido permanente. Operei em 2007, estou sempre em acompanhamento médico. Agora vou fazer ressonância pois a tomografia deixou a dúvida da recidiva da doença. Por muito tempo tive secreçao, a um ano o ouvido está seco mas tenho dores de cabeça frontal a esquerda junto o ouvido esquerdo que teve o colesteotoma. Minha dúvida é ouvido seco é bom sinal?
Olá Marieli,
O ouvido permanecer seco é um dos principais objetivos do tratamento, entretanto isso não é a garantia de que o problema esteja resolvido. Não deixe de acompanhar de perto com seu cirurgião.
Abraço,
Luciano Moreira
Olá.
Há cerca de 4 ou 5 meses venho sentindo alguns problemas nos dois ouvidos. No início sentia os ouvidos coçarem muito, depois veio vertigem. Daí comecei a perceber uma secreção amarelada em ambos. Algumas vezes um zumbido, pressão, dor de cabeça. Fui ao otorrino, onde o mesmo receitou dois antibióticos. Um de aplicação direta nos ouvidos. Depois disso, passei uns dias com a audição prejudicada. Retornei ao médico e fiz uma lavagem no ouvido pior. Após o procedimento obtive uma certa melhora, mas tudo retornou. Voltei a sentir tonturas, pressão e secreção nos ouvidos, dor de cabeça, coceira algumas vezes, além de uma surdez de vez em quando nos dois, sinto como se algo pulsasse em ambos. Tenho uma certa dificuldade para ouvir. E ultimamente sinto como se fosse uma pontada/dor em volta das duas orelhas, na parte de trás, em cima. O que pode ser isso? Será um colesteatoma ou algo diferente?
Obrigada!
Olá Thais,
Infelizmente não posso opinar sobre nenhum caso específico pela internet.
é importante que voc~e mantenha a investigação e acompanhamento do teu problema para que ele não se complique.
Abraço,
Luciano Moreira
minha filha de 2 anos tem otite media cronica supurada , ja passou poe duas cirurgias e nada na tc de pdeudomonas ficou enternada tomou varios antibioticos e nada ??//
Dr. Tenho 54 anos e gostaria de sabe guantos anos de vida tem a pessoa com (coleastoma crónica )consegue viver. muito obg.
Olá Solange,
O colesteatoma, quando devidamente acompanhando e tratado, não coloca em risco a vida.
Um abraço,
Luciano Moreira
Olá Dr. Tenho colesteatoma congênito nos dois ouvidos. Já fiz cirurgia no ouvido esquerdo mas houve recidiva da doença. Gostaria de saber quanto tempoo colesteatoma pode ficar no ouvido sem afetar o nervo facial e as meninges?
Oi Juliana,
Isso é muito variado pois depende do local e da velocidade que ele cresce. O importante é manter a vigilância do teu caso de perto com um otorrinolaringologista.
Abraço,
Luciano Moreira
Olá Doutor tenho o.m.c colesteatonatosa já a lguns anos e já fiz exames e espero hj pela cirurgia tenho riscos de acontecer algo ainda mais graves por estar a muito tempo assim
Boa Noite Dr.Luciano Moreira, Gostei muito desde site,pois procuro sempre me interar sobre este problema que afeta não só a mim mas muitas pessoas,e que só nós sabemos o quanto sofrido é um problema no ouvido.Meu caso é o seguinte:tive problema de ouvido desde pequeno hoje com 54 anos tenho otite média crônica colesteatomatosa e mastoidite, já fiz durante esta caminhada 13 cirurgia ,tive paralisia facial o qual levei mais de 10 anos para voltar ao normal , no ano de 2002 e 2003 fiz duas cirurgias seguidas no ouvido esquerdo o qual foi feito uma cirurgia radical tirando toda a cavidade do ouvido,deixando o aberto,felizmente com a graça de Deus consegui trabalhar por quase 30 anos com todo este sofrimento e hoje sou aposentado ,mas a coisa não parou por aí o problema passou para ouvido direito o qual tive otorréia fétida, tratada com antibióticos fortes,perdi minha audição nos dois lado sendo OE moderada severa e OD severa, necessitando de aparelho auditivo,mas continuo meu tratamento religiosamente, a minha pergunta é a seguinte : O ouvido direito que está em tratamento tenho problema na parte do osso temporal qual é o risco deste estágio e o que fazer ,outro, começou a afundar o lado direito do meu pescoço subindo para a face ,ainda não sabemos o que pode ser,vou fazer uma tomografia para ver se achamos a doença;Um abraço Doutor e obrigado pela sua luta e a todos aqueles que sofrem com esta doença que Deus os abençoe.
JOÃO M.SILVA
Olá Sr João,
Que bom que os artigos do site te ajudam de alguma forma. Parabéns pela tua dedicação ao tratamento, ela é fundamental.
Infelizmente somos impedidos pelo conselho de ética do CRM de responder perguntas sobre qualquer caso específico pela internet.
Abraço,
Luciano Moreira
Bom dia Doutor!
Sou filha de uma paciente diagnosticada com Colesteatoma, ela tem 54 anos, e não é a favor de fazer o procedimento cirúrgico. Gostaria de saber como funciona o tratamento paliativo, e em quais casos ele é sugerido?
Ela tem um histórico de secreção auricular desde os 5 anos, mas como era órfã não teve o devido cuidado, passando durante anos em vários otorrinos para agora ser diagnosticada, isto devido a um pequeno surto de dor aguda no ouvido seguido de tontura a desmaio.
Olá Larissa,
Bom dia!
O tratamento ideal do colesteatoma é cirúrgico, para se eliminar os riscos de complicações auditivas e neurológicas.
O tratamento de suporte sem cirurgias depende de cada caso e deve ser traçado com o médico presencialmente..
Um abraço,
Luciano Moreira
Olá Dr. A 5 dias fiz a cirurgia colesteatoma, vou retornar ao medico daqui 10 dias, minha duvida é se o liquido de sangue que ainda sai no curativo é normal ?? Tenho tonturas toda vez que troco o curativo .
Olá Yasmin,
Perdoe, mas não posso comentar nenhum caso específico pela internet.
Abraço e boa sorte!
Luciano Moreira
Olá doutor. A otite pode causar entupimento na narina e dificultar a respiração? É possível otite sem dor? Sinto certa pressao no ouvido esquerdo e minha narina esquerda ta quase sempre entupida. Tenho pigarro por conta de um problema e receio que tenha ido pro canal interno do ouvido. Grato.
Olá Heitor,
É bastante comum problemas respiratórios e nasais causarem consequências no ouvido, mas o contrário não.
Abraço,
Luciano Moreira
Olá novamente. A história é que eu estava com o nariz meio fechado e o ouvido tampado; fiz uma limpeza do meu ouvido retirando a cera com seringa e a respiração voltou ao normal. Agora venho sintindo certa pressão no ouvido esquerdo e minha narina esquerda às vezes fechada também. Fui no PS e me disseram que o ouvido está sem cera, limpo. Li que a tuba auditiva se liga ao canal do nariz, logo imaginei que poderia haver presença interna de catarro ali, como é na otite, que poderia impedir a ventilação nasal. Isso não existe?
Olá, boa noite. O Colesteatoma pode ser confundido com paraganglioma timpânico? Fui diagnosticado com paraganglioma timpânico a 4 anos e estava pesquisando a respeito, existe a remoção do mesmo pelo transcanal? Difícil encontrar profissionais aqui no interior de São Paulo.
Olá Samuel,
Pode haver essa dificuldade de distinção à principio, mas os exames complementares podem definir o diagnóstico exato. Dependendo do tamanho, o glomus pode ser removido pelo canal. Nós últimos anos temos feito essa remoção endoscopicamente.
Abraço,
Tenho um colesteatoma há muitos anos (descobri a doença há 4 anos e ja estava avançada). Estou dividida. Já procurei vários especialistas ( 6 na minha cidade – Florianópolis SC) e eles tem ideias divergentes. Alguns dizem que devo operar e outros dizem que não é recomendado pois poderia trazer complicações. Estou apavorada. Sei dos riscos, mas estou preocupada com a cirurgia em si e o pós operatório. E um especialista disse que terei que alugar brocas de diamante ( que o plano não cobre). Não sei o que fazer. No momento faço uso de antibióticos (gotas e via oral). Em média quantas horas dura a cirurgia?
Olá Cristiane,
A duração da cirurgia do colesteatoma é extremamente variável. Tentando fazer uma média, de 1-2 horas, podendo durar mais em casos mais complexos. Escolha um profissional que você confiou e siga em frente!
Abraço,
Luciano Moreira