Todos os dias recebo mensagens de pessoas que querem saber se determinado medicamento é ototóxico ou não, ou seja, se um remédio pode causar surdez ou zumbido. Não foram poucos os pacientes que, após uma internação hospitalar por cauda da COVID, saíram da CTI com algum grau de surdez. Existem muitos medicamentos que são ototóxicos, e alguns são administrados quando o paciente corre sério risco de vida.
O que são Medicamentos Ototóxicos?
As drogas ototóxicas são aquelas capazes de lesar estruturas da orelha interna, impactando negativamente suas funções auditiva e do equilíbrio.
Remédios antibióticos, para o câncer, hipertensão arterial, doenças neurológicas e mesmo alguns considerados mais inofensivos, como o AAS (Aspirina), podem causar zumbido e perda auditiva. Assim, precisamos estar atentos ao uso de medicamentos, especialmente as pessoas que já apresentando algum grau de surdez.
Risco de Perda Auditiva ou Zumbido?
O risco de ototoxicidade é variável dentre os medicamentos listados abaixo.
Enquanto o risco com o uso do AAS é e torno de 1% e depende do tempo e dose usado, a chance de dano auditivo é ainda maior para outras drogas como o diurético furosemida (6%), os antibióticos aminoglicosídeos (10 a 30%) e a cisplatina (50 a 60%) usada na quimioterapia contra o câncer.
Além das particularidades de cada substância, o risco de desenvolver deficiência auditiva ou zumbido com o uso de medicamentos também depende de:
- Dose e duração do tratamento
- Velocidade da infusão de drogas venosas
- Alteração da função renal
- Uso concomitante de outras drogas potencialmente tóxicas
- Idade
- Perda auditiva prévia
- Exposição prévia a radioterapia
- Predisposição genética
Quais são os sintomas?
-
- Zumbido (ou tinnitus) costuma ser o primeiro sintoma
- Perda auditiva uni ou bilateral
- Surdez Súbita
- Tonteira
- Desequilíbrio ao andar
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Quando em uso de qualquer medicamento e diante do aparecimento de um ou mais dos sintomas acima, é importante investigar com o otorrinolaringologista, com a ajuda de uma audiometria e outros exames adequados para cada caso.
O que fazer?
Praticamente todos os medicamentos disponíveis podem causar efeitos colaterais.
Estima-se que hajam mais de 200 medicamentos no mercado com potencial ototóxico. Se você estiver em uso de algum dos medicamentos da tabela a baixo, deve estar alerta para esse risco. Os sintomas acima podem ajudar a suspeitar da ocorrência de dano ao ouvido.
Quando o uso de medicamentos potencialmente tóxicos ao ouvido é inevitável, faz-se importante o acompanhamento dos limiares auditivos através da audiometria.
A audiometria de altas frequências é especialmente importante nessas situações, já que a perda auditiva de alguns medicamentos ototóxicos apresenta-se inicialmente nas frequências não testadas nas audiometrias de rotina.
Nas crianças pequenas e que ainda não falam essa vigilância tende a ser mais complicada. A incapacidade de relatar os sintomas de zumbido e perda auditiva e a maior complexidade dos exames auditivos requer cuidado e vigilância redobrados.
Em alguns casos de ototoxicidade a perda auditiva pode ser reversível, por isso a necessidade de se identificar o problema precocemente. Em outros, instala-se uma perda irreversível, podendo ser indicado o uso de aparelhos auditivos ou implantes cocleares.
Lista de Medicamentos Ototóxicos
A tabela abaixo reúne medicamentos que podem causar zumbido e surdez.
É importante lembrar que muitos deles são usados em situações graves, como infecções, tumores, crises hipertensivas, etc.
Portanto, embora seu uso sempre deva ser feito com com cautela e conhecimento do potencial ototóxico, muitas vezes eles são importantes para preservar a vida e a saúde.
Na coluna da direita “RISCO” são incluídos a possibilidade de perda auditiva associada ao uso do medicamento, apenas para as substâncias cujo risco já foi demonstrado por pesquisas. As demais substâncias são associadas a perda de audição na literatura, porém com risco desconhecido.
ATENÇÃO: A tabela – sendo fruto de publicações pesquisadas – não representa a verdade absoluta. Certamente haverão outros medicamentos (novos ou pouco estudados) com potencial ototóxico e que não constam dessa lista.
CLASSE SUB-CLASSE SUBSTÂNCIA NOMES COMERCIAIS RISCO
Antibióticos Aminogligosídeos Amicacina Novamin, Amicilon, Klebicil Alto
Gentamicina Gentamicin, Gentamisan, Gentamicil, Garamicina, Gentamil, Garamox Alto
Neomicina
Netilmicina Muito Baixo
Estreptomicina Estreptomax
Tobramicina Tobrex
Macrolídeos Eritromicina Eriflogin, Eribiotic, Eripan, Eritax, Eritrex, Ilosone, Losotrex
Azitromicina Astro, Azi, Clindal, Solimax, Zidimax, Zimicina, Zithromax, Zitroneo
Claritromicina Klaricid, Clabiosin, Clarineo, Muito Baixo
Quinolonas Cinoxacino Floxstat
Lomefloxacino Meflox, Maxaquin
Alto
Outros Clotrimazol Clomazon, Canesten
Linezolida Zyvox
Teicoplanina Teiplan Muito Baixo
Tetraciclina Multigram, Parenzyme, Tetracina, Tetraclin, Tetramed, Tetrex, Tetraxil
Vancomicina Novamin, Amicilon, Klebicil, Celovan, Vancocid, Vancocina, Vacoson, Vancotrat Baixo
Imipenem e Cilastina Tienam, Tiepem
Polimixina Diversos colirios, pomadas e soluções de uso tópico
Antivirais Ganciclovir Valcyte, Cymevir, Cymevene, Ganvirax
Zalcitabina Invirase
Interferon alfa Pegasys, Alfainterferona, Blauferon, Roferon, Kinnoferon
Ribavirina Ibav, Ribavirin, Viramid, Virazole
Antifúngicos Anfotericina Ambisone, Anphocil, Fungizon
Voriconazol Vfend
Antimaláricos Quinino
Mefloquina
Cloroquina
Antituberculosos Capreomicina
Analgésicos Anti-inflamatórios Ácido acetilsalicílico AAS, Aceticil, Analgesin, Antifebrin, As-med, Aspirina, Bufferin, CAAS, CardioAAS, Cibalena, Engov, Fontol, Melhoral, Migrane, Prevencor, Salicetil, Salicil, Sonrisal, Somalgin, Superhist, Vasclin Alto
Indometacina Indocid
Ibuprofeno Advil, Algiflex, Alivium, Dalsy, Doraliv, Doraplax, Maxifen, Motrin, Parartrin, Spidufen
Diclofenaco Artren, Belfaren, Boifenac, Clofenid, Feltaflogin, Diclac, Diclonax, Dinaren, Fenaren, Inflamex, Kindaren, Optamax, Voltaflan, Voltaren, Cataflam, Voltrix, Fisioren, Diclonil, Flanakin
Cetorolaco Cetrolac, Toradol, Toragesic
Naproxeno Flamaprox, Flanax, Napronax, Naprox
Celecoxibe Celebra
Quimioterápicos Compostos de Platinalatina Cisplatina Muito Alto
Carboplatina
Oxaliplatina Moderado
Alcaloides da Vinca Vindesina
Vinblastina Baixo
Vincristina
Inibidor da Enzima Topoisomerase II Etoposido
Cardiovasacular Diuréticos Furosemida Furosecord, Furosem, Furosemide, Furosemin, Furosen, Furosetron, Furosix, Lasix, Urasix Muito Alto
Bumetamida
Torasemida
Amilorida Amilorid
Inibidores da descarboxilase Acetazolamida Diamox
Betabloqueadores Metoprolol Lopressor, Seloken, Selosok
Sotalol Sotacor
Bisoprolol Biconcor
Alfabloqueadores Prazosina Minipress
Inibidores da ECA Ramipril Naprix, Ecator, Triatec
Enalapril Angiopril, Cardionato, Enalabal, Enalamed, Enalap, Enalatec, Enali, Enalpril, Enaplex, Enaprotec, Enatec, Eupressin, Maleapril, Malena, Pressocord, Pressomed, Pressotec, Renitec, Renopril, Vasopril
Trandolapril Gopten
Antiarrítmicos Flecainidina
Quinidina Quinicardine
Adenosina Adenocard
Bloqueadores canal de cálcio Diltiazem Cardizem, Angiolong, Balcor, Dilcor, Diltipress, Diltizem, Incoril
Nicardipina Manivasc
Neurológicos Anticonvulsivantes Valproato de sódio Depakene, Depakote, Epilenil, Torval, Valpakine
Carbamazepina Tegretard, Tegretol, Tegrex, Tegrezin
Fosfenitoína
Antidepressivos Imipramina Clomipram, Depramina, Imipra, Mepramin, Tofranil
Amitriptilina Amytril, Limbitrol, Trisomatol, Tryptanol
Citalopram Alcytam, Cipramil, Citta, Denyl, Maxapran, Procimax
Bupropiona Welbutrin, Zetron, Zyban
Antiparkinsonianos Entacapona Comtan
Imunossupressores Tacrolimo Tarfic
Antireumático Hidroxicloroquina Plaquinol, Reuquinol
Anestésico local Ropivacaína Ropi
Disfunção Erétil Sildenafila Viagra
Tadalafina Cialis
Vardenafila Levitra
Vacinas Tríplice Viiral MMR, VTV, SCR Muito Baixo
Outros Pegaptanibe Macugen Moderado
REFERÊNCIAS
- https://onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1111/tmi.12608
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3138949/
- http://www.europeanreview.org/wp/wp-content/uploads/956.pdf