Dr. Luciano Moreira – OTORRINO – Surdez – Otosclerose – Implante Coclear -Rinoplastia -Rio de Janeiro – Cirurgia de Ouvido, Nariz e Garganta

Novidades do Implante Coclear

Toronto News – Novidades do Implante Coclear

 

Terminou ontem a 14 Conferência Internacional de Implante Coclear. O itinerante e já tradicional evento da American Cochlear Implant Alliance ocorreu este ano em Toronto, no Canadá. Foram 4 dias dedicados a apresentação de trabalhos sobre próteses auditivas implantáveis, em dezenas de apresentações ao dia, ocorrendo em diferentes salas simultaneamente. Depois de longa jornada, cheguei hoje ao Rio e reuni aqui uma amostra de algumas das mais interessantes novidades do implante coclear, e que em breve estarão no Brasil. A comunidade de médicos e fonoaudiólogos brasileiros das equipes de IC estava lá. Frente a um passado não muito distante, quando a disponibilidade dos implantes no primeiro mundo era motivo de inveja para nós, é muito bom perceber que hoje quase tudo que existe lá fora está também disponível aqui, para benefício dos nossos pacientes.

Selecionei cinco novidades e as dividi em dois grupos: Pesquisas acadêmicas e Lançamentos da indústria médica.

Novidades nas Pesquisas 

Como é o som do Implante Coclear?

Essa é uma pergunta feito por praticamente todos os pacientes que se encaminham para o implante e de fato, de todo interesse. Minha resposta dentro dos consultórios sempre foi dada misturando humor e sinceridade: “Eu não sei, nunca ouvi com o IC!” O que nos resta  é o relato dos pacientes, a descrição que eles fazem dos sons e vozes que ouvem. Mas aí há um problema, pois quase todos os pacientes que vão para o IC passaram grandes períodos sem ouvir ou com uma surdez que foi se instalando aos poucos. Em que medida um cérebro privado de sons ou que recebe sons distorcidos pela falha do sistema é capaz de “comparar” o novo som oferecido pelo IC? Qual o parâmetro de normalidade para eles? Assim, o único jeito de se fazer essa comparação seria fazer com que alguém que ouve normalmente ouvisse também pelo implante coclear. Assim poderíamos confiar mais nessa comparação…

E foi isso que motivou a equipe chefiada pelo pesquisador Michael Dorman, da Universidade do Arizona. O Prof. Dorman contou com a participação de pacientes com surdez unilateral e que tiveram seu ouvido surdo implantado. (Um parêntese para dizer que a surdez unilateral ainda não é uma indicação formal para o IC, mas vem sendo realizada em caráter experimental com resultados promissores.) Nesses casos, temos alguém que ouve normalmente pelo seu ouvido saudável e bionicamente pelo lado implantado, sendo essa a configuração ideal para podermos perguntar: Como é o som do IC comparando com o som normal? No vídeo abaixo podemos ver a pesquisadora em ação junto com uma das voluntárias, apresentando sons de diferentes características para que ela responda.

Sempre tivemos a impressão que o som do IC deveria soar como algo “metalizado, digital, robotizado”. Entretanto, a análise dos resultados com os participantes que ouvem normalmente do outro lado sugere que a maioria deles descreve o som do IC com adjetivos mais próximos de “abafado” e não como achávamos antes.

Robô-Cirurgião

A cirurgia robótica há muito deixou de ser ficção. Na neurocirurgia, urologia, cirurgia abdominal e outras áreas, a precisão e estabilidade das máquinas há muito colaboram para a procedimentos mais rápidos e seguros. Sendo o implante coclear um procedimento que exige precisão de movimentos e cuidado com estruturas vizinhas nobre e vitais, porque não um robô assistente? São duas as formas principais que eles podem nos ajudar nos implantes: no acesso até a cóclea e na inserção dos eletrodos.

O acesso até a cóclea exige que façamos um corte de pelo menos 4 centímetros na pele para exposição da região mastoidea (o osso atrás da orelha). A partir daí entramos nesse osso com um motor de alta rotação, identificando e contornando estruturas como as meninges, vasos sanguíneos e o nervo facial. Essas estruturas (reparos anatômicos) que nos guiam até onde deve estar a cóclea. Isso requer conhecimento anatômico, delicadeza de movimento e tempo, cerca de 30 minutos em casos fáceis até algumas horas em casos muito complicados. Já nas cirurgias feitas por robôs o tempo é gasto antes, em planejamento, mapeamento das estruturas por tomografia computadorizada de alta resolução, reconstrução das imagens, fixação do robô no paciente e aferição das posições. Uma vez terminado o planejamento, todas as estruturas anatômicas importantes já foram identificadas e o caminho em linha reta até a cóclea, traçado. É então que entra o robô, fazendo um furo de cerca de 2-3 milímetros em linha reta até a entrada da cóclea, sem necessidade de remoção excessiva de osso e aproximação de estruturas nobres, em menos de 3 minutos. No vídeo abaixo, o Dr Robert Labardie da universidade de Nashville, e um dos pioneiros, mostra cirurgião e robô em ação, desde o planejamento até a execução.

A inserção do eletrodos na cóclea é outro momento crucial da cirurgia, em que o robô pode fazer diferença. Atualmente, após abrirmos a cóclea, escolhemos o ângulo correto e introduzimos os eletrodos num movimento suave, contínuo e lento, buscando sentir a resistência final. A inserção feita por robôs tende a sem mais estável e pode ser capaz de detectar resistências além dos sentidos da mão humana.

É importante dizer que todo o procedimento é planejado e conduzido pelo cirurgião. Ao robô cabe o papel de fazer o que lhe foi programado por médicos e engenheiros, com precisão inigualável. Como disse um dos apresentadores: “Robôs não têm um dia ruim“.

Novidades da Indústria.

 O Implante coclear é um dispositivo eletrônico, como os celulares, tablets e computadores. Isso é ótimo, pois agrega novas funcionalidades, melhora em qualidade e beneficia um número cada vez maior de pacientes, a cada ano. Por outro lado essa evolução também pode ser frustrante para alguns, pois trocar de implante, mesmo que seja só o processador externo, está longe de ser tão simples e acessível quanto trocar o celular ultrapassado pelo último modelo. Selecionei abaixo 3 inovações marcantes apresentadas em Toronto, produzidas por 3 empresas diferentes.

Processador de voz Kanso.

Implante Coclear Kanso

Uma das maiores novidades do evento partiu da australiana Cochlear, empresa líder no mercado de implantes cocleares no Brasil e no mundo. Para se somar ao já conhecido processador Nucleus 6, a empresa lançou seu primeiro processador de fala em uma peça única, seguindo a tendência inaugurada pela Med-El com seu processador Rondo. A promessa é que o dispositivo, batizado de Kanso, trará as mesma funcionalidades do Nucleus 6, incluindo a excelente conectividade wireless, que traz inúmeros benefícios em ambientes com ruído bem como para falar ao telefone, assistir TV ou ouvir música. Além de ser bem mais leve que o rival Rondo, esse último também não conta com a conectividade sem fio. Tive a oportunidade de assistir uma apresentação de um usuário e ver como o Kanso se encaixa bem na posição, fixa firmemente no local e praticamente desaparece nos cabelos dependendo do corte, trazendo também uma indiscutível vantagem estética sobre os processadores retroauriculares. A novidade é ideal para aqueles que se incomodam com algo preso na orelha e desejam discrição, sem perder qualidade. Desvantagens em relação ao Nucleus 6 são a impossibilidade de usar baterias recarregáveis e a ausência de saída para um cabo de áudio. Na foto acima, o detalhe dos processadores Kanso nas suas variadas cores. A expectativa é termos o Kanso no Brasil antes do fim do ano.

IC e Ressonância Magnética, agora pode!

A austríaca Med-El, antes mesmo do evento em Toronto já havia feito seu lançamento mais recente e aproveitou a conferência para fazer o merecido alarde sobre o tema. Dotado com uma tecnologia inovadora, sua unidade interna do nome Synchrony vem com um ímã que pode girar livremente (vídeo) quando submetida às forças da ressonância magnética. Segundo a empresa, isso permite que o paciente implantado realize uma série de exames de ressonância até então impossíveis sem a remoção cirúrgica prévia do ímã. Começamos assim a eliminar uma das duas limitações importantes, no que se refere a tratamentos médicos, que os pacientes implantados têm em comparação à população em geral (a segunda é a impossibilidade do uso do bisturi elétrico do tipo monopolar, que ainda vale para todos os implantes).

IC´s conversando com AASI´s

Com o aumento do número de pacientes implantados cocleares no mundo (atualmente são mais de 400 mil), crescem as evidências dos seus resultados, e eles não param de nos surpreender. Isso vem fazendo com que mais e mais pacientes, que antes não eram considerados candidatos ao IC, venham a faze-lo. Hoje sabemos que a reabilitação auditiva através do IC pode ser superior àquela com AASI, mesmo em pacientes com surdez moderada a severa, ou com surdez em agudos mas com boa audição em graves. Assim, pessoas com surdez severa a profunda em um ouvido e com limiares melhores no outro lado vem recebendo o IC de maneira crescente. Foi pensando nesse grupo de pacientes que a empresa americana AB (Advanced Bionics), junto com sua irmã Phonak, lançou uma inovadora plataforma de audição bimodal que promete trazer um grande avanço. Sua funcionalidade é baseada na nova linha de aparelhos Link, da Phonak e está disponível para os processadores de fala da AB, modelos Q70 e Q90 (esse último a ser lançado em breve). No detalhe da foto, da esquerda da direita, o processador de IC e os dois modeles de aparelhos da linha Link. Funcionando juntos e sincronizados, implante de um lado e AASI do outro, o sistema permite a transmissão de sons entre os dois dispositivos, o foco direcional dos microfones e a atenuação de ruídos por orelha, dependendo de onde ele venha. Ficamos torcendo para sua breve chegada no Brasil, prevista ainda para este ano.

 

Sair da versão mobile