Dia de receber tia Norma para o teste da orelhinha do Lucas!
Há 3 dias, Paula deu a luz ao nosso pequeno, enchendo de alegria os corações de toda a família. Devido à surdez da mãe e a possibilidade do Lucas herdar essa tendência, é natural que nossa preocupação com a audição do rebento seja grande. Por isso, dentre todos os exames realizados após o parto, o exame de hoje teve um plus de expectativa e tensão. Mais adiante conto como foi…
O que é o Teste da Orelhinha?
Teste da orelhinha é o nome dado ao exame de otoemissões acústicas. Ele é realizado com um aparelho eletrônico ligado a uma sonda que se encaixa na orelha do bebê. A sonda possui um microfone capaz de captar sons baixinhos produzidos pelas células ciliadas que ficam bem lá de dentro da cóclea.
Quando esses sons – chamados de otoemissões acústicas – podem ser captados com com intensidade adequada, dizemos que elas estão presentes. Esse é um sinal muito forte de que as 3 porções da orelha (externa, média e interna) funcionam bem e, portanto, a audição do bebê deve ser boa. Dizemos então que o pequeno paciente passou no teste da orelhinha. Quando as otoemissões acústicas não são captadas, consideramos que o bebê falhou no teste.
Entretanto, é importante deixar claro que embora as otoemissões acústicas presentes sejam um excelente sinal, elas não são uma prova de boa audição, muito menos a garantia que uma perda auditiva ainda não surgirá no futuro.
Quando deve ser feito o Teste da Orelhinha?
O exame de otoemissões acústicas (OEAS) deve ser feito durante o primeiro mês de vida, idealmente antes do bebê sair da maternidade. A necessidade de se fazer tão cedo deve-se a importância da estimulação auditiva dos bebês desde o primeiro momento.
Já está claro que essa estimulação precoce é fundamental para o bom desenvolvimento das vias neurais envolvidas na fala e na linguagem. Assim, quanto antes identificarmos uma deficiência auditiva, mais rápido podemos agir na sua reabilitação, minimizando os riscos de sequelas de linguagem e no desenvolvimento cognitivo em geral.
O Teste da Orelhinha basta na Triagem Auditiva Neonatal?
Embora o teste da orelhinha tenha um enorme valor, nem sempre ele é o exame mais indicado ou o único a ser realizado. É o que explica a fonoaudióloga Norma Fidalgo, membro da equipe Sonora:
“Para os bebês com baixo risco, o exame de otoemissões acústicas é o indicado para triagem auditiva neonatal, por ser rápido, não invasivo, e de baixo custo. Além disso, eles identificam a maioria das perdas auditivas presentes ao nascimento. Já para os bebês com fatores de risco, o PEATE (BERA) é o exame indicado, por identificarem também as perdas auditivas retrococleares, como nos casos da neuropatia auditiva. O BERA também é melhor para as perdas “em rampa” (quando acometem mais as frequências agudas).”
É importante que pediatras, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos, pais e todos os profissionais envolvidos com a saúde dos bebês estejam atentos aos fatores de risco mencionados acima. Alguns dos principais são:
- História familiar de deficiência auditiva
- Permanência em UTI neo-natal
- Infecções bacterianas ou virais congênitas ou pós-natais como citomegalovírus, herpes, sarampo, varicela e meningite, entre outras.
- Síndromes genéticas que podem cursar deficiência auditiva como Waardenburg, Alport, Pendred, entre outras.
- Malformações craniofaciais congênitas
- Traumatismos cranianos
- Hipoxia neonatal
- Icterícia neonatal (hiperbilirrubinemia)
- Muito baixo peso ao nascer
- Prematuridade
Nesses casos, mesmo bebês que nasceram com audição normal poderão desenvolver uma surdez nos primeiros anos de vida. Por isso, Norma Fidalgo adverte:
Essas crianças passam no teste da orelhinha, o que proporciona aos pais e pediatras uma tranquilidade que pode ser perigosa. O acompanhamento dos bebês de risco é fundamental para que as perdas auditivas que surgem no primeiros anos de vida sejam rapidamente identificadas, para uma intervenção imediata.
O Teste da Orelhinha é Lei! Mas isso não Basta…
Desde 2010, a triagem Auditiva Neonatal com o teste da orelhinha passou a ser obrigatório por lei para recém nascidos em todo o território nacional. Mas como sabemos, leis no Brasil não querem dizer muita coisa. Apenas para dar um relato pessoal, tivemos alta ontem de uma maternidade privada sem que o exame fosse realizado e nem mesmo oferecido.
Quando questionei, fui informado que “no caso do plano de saúde que a mãe tem, os exames não são realizado aqui”. Felizmente a pediatra que nos atendeu na sala de parto, Dra. Jéssica Pinha, era extremamente atenta e deixou a solicitação para que fizéssemos o exame o quanto antes.
No caso das maternidades públicas na cidade do Rio de Janeiro, tive hoje informações muito desanimadoras de fonoaudiólogas que trabalham no município. Em várias unidades o exame não vem sendo realizado, e em outras os equipamentos têm qualidade duvidosa.
É triste, mas os dois exemplos servem para mostrar a importância da equipe médica e dos pais estarem atentos a necessidade do exame e naõ abrirem mão da sua realização em nenhuma hipótese, mesmo que após a saída da maternidade.
O Teste da Orelhinha do Lucas
Não vou dizer que eu estava tranquilo. Muito menos mamãe Paula. Norma fez questão de dizer que não ia levar em conta que eu era otorrinolaringologista e nem que cuidava de crianças com deficiência auditiva. E assim vestiu seu profissionalismo habitual para nos explicar o que ia fazer e a importância e como se daria o exame que ia fazer.
Na sequência ela fez o teste da orelhinha do Lucas, com medida das otoemissões acústicas de dois tipos: Transientes e por produto de distorção. Felizmente elas estavam todas presentes e Lucas passou nos testes! O exame todo levou uns 10 minutos (que pareceram 2 horas). Lucas dormiu tranquilamente durante todo o exame.
Apesar da felicidade e alívio imediato, Paula e eu estamos cientes que temos que manter a vigilância da audição do Lucas bem de perto. Assim como ela perdeu a audição durante a infância e a adolescência, o mesmo poderia ocorrer com nosso pequeno. Esperamos que isso sirva de alerta para todos os pais portadores de alguma deficiência auditiva, especialmente aqueles que desconhecem o motivo da mesma, assim como para os pais de bebês com outros fatores de risco para perda de audição.