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GUIA completo da OTOSCLEROSE: especialista explica tudo

Este guia completo da OTOSCLEROSE nasceu da necessidade que percebo em meus pacientes – atendo pacientes com otosclerose do mundo inteiro por Telemedicina e presencialmenten o Rio de Janeiro – por um entendimento que vá além do superficial. Vamos explorar cada detalhe da otosclerose, desde suas origens moleculares até as mais modernas opções de tratamento, incluindo minha experiência com técnicas como a cirurgia endoscópica da otosclerose.

Guia completo da OTOSCLEROSE: como a ciência explica a doença da otosclerose

A otosclerose é uma doença primária do osso temporal, classificada como uma osteodistrofia que afeta seletivamente a cápsula ótica, a densa armadura óssea que envolve e protege as delicadas estruturas do nosso ouvido interno. O termo, derivado do grego oto (ouvido) e sclerosis (endurecimento anormal do tecido), descreve um processo dinâmico e patológico de remodelação óssea.

O processo de remodelação óssea anormal: otospongiose vs. otosclerose

A remodelação óssea na otosclerose é um processo que ocorre em fases distintas:

Embora o termo “otosclerose” seja o mais conhecido e utilizado para descrever a doença como um todo, “otospongiose” é, na verdade, uma descrição mais precisa da fase histologicamente ativa e inicial do processo.

Como a otosclerose afeta a audição: o papel central do estribo

A perda auditiva na otosclerose ocorre, predominantemente, devido à fixação do estribo na janela oval. O estribo, como vimos, é o menor dos três ossículos do ouvido médio (martelo, bigorna e estribo) e sua platina (base) se encaixa na janela oval, uma abertura que comunica o ouvido médio com o ouvido interno. Sua função é vibrar como um pistão, transmitindo a energia sonora mecânica para os fluidos da cóclea.

Quando o crescimento ósseo anormal da otosclerose atinge a região da janela oval, ele pode imobilizar a platina do estribo, impedindo suas vibrações normais. Esse bloqueio na transmissão do som resulta na perda auditiva condutiva, pois o som não é “conduzido” eficientemente ao ouvido interno.

Se o processo otosclerótico se estender para além da janela oval e envolver diretamente a cápsula óssea que reveste a cóclea (o órgão sensorial da audição), pode haver uma liberação de substâncias tóxicas ou alterações na microcirculação coclear, levando a uma perda auditiva neurossensorial ou, mais comumente, a uma perda auditiva mista (componentes condutivo e neurossensorial).

Um pouco de história e epidemiologia: quem é mais afetado pela otosclerose?

A otosclerose clínica, aquela que manifesta sintomas, afeta aproximadamente 0,3% a 1% da população caucasiana (branca), sendo significativamente menos comum em indivíduos de outras etnias, como afrodescendentes e asiáticos. A doença é classicamente descrita como sendo duas vezes mais prevalente em mulheres do que em homens. Os primeiros sintomas geralmente surgem entre os 20 e 40 anos de idade. Alguns estudos sugerem que a prevalência da otosclerose pode estar diminuindo em certas regiões, um fenômeno que alguns pesquisadores atribuem, em parte, à vacinação em massa contra o sarampo.

É crucial distinguir entre otosclerose clínica e otosclerose histológica. A forma histológica, onde as lesões ósseas características da doença são encontradas em exames de ossos temporais de cadáveres, mas o indivíduo não apresentava sintomas em vida, é muito mais comum. Estima-se que até 10-12% dos caucasianos possam ter focos de otosclerose histológica. Isso nos mostra que a simples presença da lesão óssea não é suficiente para causar a doença manifesta; outros fatores, ainda não completamente elucidados, são necessários para que os sintomas apareçam.

Os Tipos de otosclerose: entendendo as variações da doença

A otosclerose pode ser classificada de acordo com a localização predominante das lesões e a presença ou não de sintomas:

Entendendo as causas e os fatores de risco da otosclerose

A pergunta “por que eu?” é compreensível e muito frequente. A etiologia da otosclerose é complexa e ainda não totalmente desvendada, mas sabemos que se trata de uma condição multifatorial, onde uma predisposição genética interage com outros fatores desencadeantes ou moduladores.

A dança dos ossos: o que acontece na cápsula ótica

A cápsula ótica, que envolve o ouvido interno, é um osso único em nosso corpo. Diferente dos outros ossos, ela tem uma taxa de remodelação muito baixa ao longo da vida, permanecendo relativamente estável. Na otosclerose, esse equilíbrio é quebrado. O osso lamelar normal da cápsula ótica é reabsorvido por osteoclastos (células “destruidoras” de osso) e substituído por um osso esponjoso, desorganizado, altamente celularizado e vascularizado – a fase otospongiótica. Posteriormente, esse osso novo e instável tende a endurecer, tornando-se denso e esclerótico.

O processo frequentemente se inicia em uma área específica próxima à janela oval, conhecida como fissula ante fenestram, uma pequena fenda de tecido conjuntivo que é um resquício embriológico. Por razões ainda não totalmente claras, essa região parece ser particularmente suscetível ao desenvolvimento dos focos otoscleróticos.

Fatores genéticos e hereditariedade: a influência da família na otosclerose

A genética desempenha um papel crucial na otosclerose.

Influências hormonais da otosclerose – especialmente durante a gravidez

A observação de que a otosclerose é mais prevalente em mulheres e que, em algumas delas, os sintomas podem surgir ou piorar durante ou logo após a gravidez, levantou a suspeita de uma influência hormonal. Os estrogênios, cujos níveis flutuam significativamente durante a gestação, são os principais candidatos. Receptores de estrogênio já foram identificados no tecido otosclerótico. No entanto, a relação exata entre hormônios e otosclerose ainda é controversa e não completamente compreendida, com estudos apresentando resultados por vezes conflitantes.

Influências virais, com destaque para o vírus do sarampo: um gatilho em potencial?

Uma das hipóteses mais intrigantes sobre a etiologia da otosclerose é o possível papel do vírus do sarampo como um agente desencadeador em indivíduos geneticamente predispostos. Essa teoria ganhou força com a detecção de RNA do vírus do sarampo e outros componentes virais em amostras de platina do estribo removidas de pacientes com otosclerose. Além disso, como mencionado, a aparente diminuição da incidência da doença em alguns países após a introdução da vacinação em massa contra o sarampo parece corroborar essa ideia. Contudo, a associação ainda é considerada controversa, pois nem todos os estudos conseguiram replicar esses achados, e o mecanismo exato pelo qual o vírus poderia induzir a remodelação óssea anormal não está claro.

Outros possíveis fatores de risco e contribuintes

Em resumo, a otosclerose parece surgir de uma complexa interação entre uma base genética de suscetibilidade e uma variedade de fatores ambientais, hormonais, virais ou inflamatórios que podem atuar como gatilhos ou moduladores do processo da doença.

Sinais de alerta: reconhecendo os sintomas da otosclerose

Identificar os sintomas precocemente é fundamental. Embora variem de pessoa para pessoa, alguns são bastante característicos:

Confirmando a suspeita: como é feito o diagnóstico da otosclerose

O diagnóstico preciso da otosclerose é um processo que envolve várias etapas, começando por uma boa conversa e culminando em exames específicos.

A consulta com o otorrinolaringologista: anamnese e exame físico

A jornada diagnóstica inicia-se com uma anamnese detalhada. Durante a consulta, o otorrinolaringologista investigará minuciosamente o início, a progressão (se foi súbita ou gradual) e a lateralidade (unilateral ou bilateral) da perda auditiva. Serão questionados também a presença e características do zumbido e da tontura, além de um ponto crucial: a história familiar de surdez ou otosclerose. O exame físico inclui a otoscopia, que é a visualização do conduto auditivo externo e da membrana timpânica. Na maioria dos casos de otosclerose, a otoscopia é normal, ou seja, o tímpano apresenta aspecto translúcido e sem sinais de inflamação ou perfuração. Testes com diapasões (como os testes de Rinne e Weber) podem ser realizados no consultório e ajudam a caracterizar o tipo de perda auditiva (condutiva, neurossensorial ou mista). Um teste de Rinne negativo (som do diapasão melhor percebido por via óssea do que por via aérea) e um Weber lateralizando para o ouvido com maior perda condutiva são achados sugestivos.

Exames audiológicos detalhados: a “assinatura” da otosclerose

Os exames audiológicos são fundamentais para quantificar a perda auditiva e identificar padrões característicos da otosclerose.

Tomografia computadorizada de alta resolução (TCAR) dos ossos temporais: enxergando a doença

A TCAR dos ossos temporais é o exame de imagem de escolha para o diagnóstico da otosclerose, especialmente em casos onde há dúvidas diagnósticas, para planejamento cirúrgico ou para avaliação de otosclerose coclear.

O especialista em otosclerose e a análise correta dos exames

As modalidades de tratamento da otosclerose

Uma vez confirmado o diagnóstico de otosclerose, existem diversas opções terapêuticas que podem ser consideradas. A escolha do tratamento mais adequado é individualizada e baseia-se no tipo e grau da perda auditiva, na atividade da doença, nos sintomas associados (como zumbido e tontura), na idade e condições gerais de saúde do paciente, e, fundamentalmente, nas suas expectativas e preferências.

Tratamento conservador: observação e amplificação sonora com aparelhos auditivos

Tratamento medicamentoso: uma análise crítica e baseada em evidências

É crucial abordar o tratamento medicamentoso da otosclerose com uma perspectiva crítica e baseada nas melhores evidências científicas disponíveis. Atualmente, não há nenhum medicamento aprovado com indicação específica para curar ou reverter a otosclerose. As terapias medicamentosas que foram e ainda são, por vezes, utilizadas visam teoricamente retardar a progressão da doença, estabilizar os focos otospongióticos ativos ou aliviar sintomas como o zumbido.

Tratamento cirúrgico: restaurando a audição com a cirurgia da OTOSCLEROSE

Para pacientes com otosclerose fenestral que apresentam perda auditiva condutiva ou mista clinicamente significativa e que desejam uma solução mais definitiva do que os aparelhos auditivos, a cirurgia do estribo é o tratamento de escolha e considerado o padrão-ouro.

A cirurgia endoscópica dos ouvidos na otosclerose – uma visão ampliada para resultados precisos e recuperação otimizada

Gostaria de dedicar um espaço especial para falar sobre a cirurgia endoscópica da otosclerose (estapedotomia endoscópica), uma abordagem que venho utilizando com grande entusiasmo e excelentes resultados há cerca de 15 anos, frequentemente em combinação com o uso do micromotor otológico. Esta técnica representa um avanço significativo em relação à abordagem microscópica tradicional em diversos aspectos.

Comparativo: Cirurgia Endoscópica vs. Microscópica para Estapedotomia

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Apesar da técnica endoscópica ser realizada com uma mão (a outra segura o endoscópio), a riqueza de detalhes e a visão panorâmica compensam a ausência de estereopsia direta, e os resultados comprovam sua eficácia e segurança.

 

Implante coclear na otosclerose avançada (FAO)

Quando a otosclerose avança a ponto de causar uma perda auditiva neurossensorial de grau severo a profundo bilateral, onde nem os aparelhos auditivos mais potentes nem a cirurgia do estribo são capazes de proporcionar uma audição funcional, o implante coclear (IC) surge como uma excelente e muitas vezes transformadora opção terapêutica.

Otosclerose e TELEMEDICINA

Como mencionei no início, minha trajetória profissional tem sido enriquecida pela oportunidade de atender pacientes de todas as regiões do Brasil e do mundo. Essa experiência me permitiu entender as dificuldades que muitos enfrentam para ter acesso a um especialista com vivência no tratamento da otosclerose. É nesse contexto que a telemedicina se tornou uma ferramenta valiosíssima, especialmente para essa condição que, muitas vezes, pode ser bem conduzida à distância em suas fases iniciais e de acompanhamento.

Para um paciente que mora em outra cidade ou estado, a jornada para o tratamento da otosclerose pode começar com uma teleconsulta. Nela, podemos:

A telemedicina não substitui a consulta presencial quando ela é indispensável, nem o ato cirúrgico em si, claro. Mas ela democratiza o acesso à expertise, permitindo que um paciente em qualquer localidade possa ter uma avaliação especializada e um plano de tratamento traçado por um profissional com vasta experiência em otosclerose, como se estivesse em meu consultório no Rio de Janeiro. Para muitos, essa ponte virtual é o que torna o tratamento viável e acessível.

Olhando para o amanhã: perspectivas futuras e inovações no tratamento da otosclerose

A pesquisa científica na área da otosclerose é contínua e busca desvendar completamente seus mecanismos, além de desenvolver novas e mais eficazes formas de prevenção e tratamento.

A jornada do paciente com otosclerose: impactos e suporte

Viver com otosclerose vai além dos sintomas físicos. O diagnóstico e a experiência da perda auditiva podem ter um impacto emocional e psicossocial significativo.

O futuro de quem tem otosclerose: entendendo o prognóstico

Compreender a evolução natural da otosclerose e o impacto dos tratamentos no prognóstico a longo prazo é essencial para o planejamento e aconselhamento adequados.

A informação sobre OTOSCLEROSE é o caminho!

Chegamos ao final deste guia expandido sobre a otosclerose. Espero que as informações aqui compartilhadas tenham sido úteis para aprofundar seu entendimento sobre esta condição complexa, mas que possui tratamentos muito eficazes.

A otosclerose, como vimos, é uma doença óssea progressiva do ouvido que pode causar perda auditiva (principalmente condutiva, mas também neurossensorial ou mista) e zumbido. Seu diagnóstico envolve uma avaliação clínica detalhada, exames audiológicos específicos e, frequentemente, a tomografia computadorizada de alta resolução dos ossos temporais. O tratamento é altamente individualizado e pode variar desde a observação e o uso de aparelhos auditivos, passando pela cirurgia do estribo (estapedotomia, especialmente a técnica endoscópica que oferece uma recuperação mais confortável), até o implante coclear nos casos mais avançados.

Embora ainda não tenhamos uma cura medicamentosa comprovada que reverta a doença, a pesquisa científica continua avançando, e as opções de reabilitação auditiva disponíveis hoje são capazes de restaurar a audição e a qualidade de vida de forma extraordinária na grande maioria dos casos. O impacto psicossocial da otosclerose é real, e o suporte contínuo, tanto profissional quanto familiar, é um componente essencial da jornada do paciente.

Viver com otosclerose apresenta, sem dúvida, seus desafios. No entanto, com um diagnóstico preciso e precoce, um plano de tratamento adequado às suas necessidades individuais, conduzido por uma equipe experiente, e uma rede de apoio sólida, é plenamente possível gerenciar a condição e manter uma excelente qualidade de vida, continuando a desfrutar dos sons do mundo e da interação com as pessoas que você ama.

Buscar conhecimento, entender sua condição e trabalhar em parceria com sua equipe de saúde são passos fundamentais para navegar nesta jornada com confiança e otimismo. E lembre-se, você não está sozinho. 

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