Um dos propósitos desse espaço é acompanhar os estudos que buscam o caminho da cura da surdez. Embora ainda seja preciso muita pesquisa até chegarmos lá, é empolgante ver essa realidade surgir no horizonte.Alguns desses estudos vêm das águas, para ser mais exato, dos peixes.
O PEIXE ZEBRA
Essa é a espécie do peixe que ilustra nosso texto de hoje. Também conhecido como paulistinha, trata-se de um peixe pequeno e bastante comum nos aquários domésticos, fácil de se cuidar e de simples procriação. Essas facilidades também são bem vistas por cientistas, que usam a espécie para pesquisa de tratamentos para várias doenças humanas. Soma-se a isso mais dois dados interessantes. Setenta porcento do código genético do peixe zebra é idêntico ao dos seres humanos. Além disso seu corpo é praticamente transparente, especialmente nas larvas, o que permite enxergar facilmente suas estruturas internas, facilitando procedimentos de pesquisa.
Assim como outras espécies, o paulistinha é dotado de um órgão chamado linha lateral (figura). Como o nome faz supor, ela é uma estrutura disposta em linha, sobre a sua pele e de cada lado do corpo. Sua função é detectar o movimento da água e de outros corpos bem próximos, permitindo a correção quase instantânea do rumo de sua natação. Essa é a propriedade que permite aos peixes nadar rapidamente em cardume, fazendo ziguezague em bonitos balés sincronizados em perfeita harmonia, sem colisões.
Acontece que na base do funcionamento da linha lateral dos peixes estão células ciliadas, muito parecidas com aquelas que se localizam no ouvido interno dos humanos e demais mamíferos, e desempenham um papel fundamental na nossa audição. Apesar da enorme semelhança entre a estrutura das células ciliadas humanas e as dos peixes, o que mais interessa os pesquisadores é uma diferença: as células ciliadas dos peixes, quando lesadas, têm a capacidade de se regenerar. Essa propriedade também também já foi documentada nas células ciladas dos ouvidos das aves, mas nunca nos ouvidos humanos. Em ratos, cujas células ciliadas também não podem se regenerar, os cientistas já conseguiram modificar a expressão de genes específicos, propiciando essa regeneração em laboratório, com consequente recuperação da audição.
UMA ADVERTÊNCIA
Esse é sempre um assunto delicado pois pode ser visto como uma falsa esperança para muitas pessoas que sofrem com a surdez. E aqui cabe explicar logo, antes que eu seja mal entendido: Se alguém com algum grau de surdez procura atendimento e tem a orientação de se tratar com aparelhos ou um implante auditivo, não há tempo a perder! Nunca a promessa da chegada de um tratamento inovador deve ser justificativa para não se tratar já! Digo isso por 2 motivos principais:
- Usar aparelhos ou implantes para tratar a surdez não serve apenas para fazer ouvir melhor. Muitas pesquisas já demonstraram que manter o cérebro estimulado pela a audição é fundamental para a manutenção da boa saúde cognitiva, preservando a memória, o humor e a inteligência. A privação auditiva pode aumentar o risco de Alzheimer, depressão e demências.
- Embora seja muito provável que o tratamento de cura para alguns tipos de surdez esteja a caminho, é impossível prever quando isso estará plenamente disponível para aplicação clínica, nem quais custos e dificuldades estarão envolvidos ou quais pacientes terão indicação para o tratamento. É bem provável que essa terapia surja aos poucos e para causas bem específicas de surdez, como a surdez súbita, a surdez causada pelo uso de medicamentos ototóxicos ou pela exposição ao ruído, por exemplo.
E assim seguimos o rumo da ciência atrás do peixe zebra, das aves e dos ratos de laboratório em busca da cura da surdez. Enquanto essa cura não chega, a tecnologia vai nos permitindo levar audição a muitos casos de surdez, através de aparelhos e implantes cocleares.
LINKS RELACIONADOS
Surdez Curável X Surdez Tratável
REFERÊNCIAS
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21111219
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24706903
http://quetanto.com/doencas-e-condicoes/zebrafish-fornecer-ferramenta-de-triagem-util-para-genes-as-drogas-que-a-perda-a.php
2 comments
Tenho um filho de 15anos que tem perda auditiva severa bilateral Fiquei muito feliz em ler sua matéria! Meu sonho e´um dia ver meu filho curado!