Embora os implantes cocleares sejam realizados há décadas, a colocação do mesmo nas duas orelhas (IC bilateral) foi introduzida há poucos anos. No Brasil a Agência Nacional de Saúde incluiu o Implante Coclear bilateral nas obrigatoriedades de cobertura dos planos de saúde em 2011.
Em recente portaria, de 10 de junho de 2014, o Ministério da Saúde regulamenta a aplicação do implante coclear bilateral também pelo SUS. O Crônicas da Surdez explica como conseguir fazer o seu implante coclear pelo SUS em detalhes.
O interesse ou não de se implantar as duas orelhas é assunto bastante debatido em todas as conferências científicas sobre o tema. Existem argumentos a favor e contra a se fazer o IC dos dois lados, enumerados no quadro abaixo.
Enquanto a saída da surdez profunda e entrada no mundo dos sons com o implante coclear pode mudar radicalmente a vida de alguns, passar de um implante para dois não representa um ganho dessa magnitude.
PRÓS E CONTRAS DO IMPLANTE COCLEAR UNILATERAL E BILATERAL
A Favor | Contra |
Melhor localização da fonte sonora | Maior tempo de cirurgia |
Melhor desempenho em ambientes barulhentos | Menor relação custo/benefício no segundo IC, em relação ao primeiro |
Melhor aquisição da fala em crianças | Eliminar possibilidade de se beneficiar de tecnologias futuras na outra orelha |
Melhor qualidade auditiva para música | Maior custo de manutenção e baterias |
Melhor audição de sons vindos de qualquer direção | |
Certeza de implantar o melhor lado |
Os implantes bilaterais podem ser divididos em 2 tipos, conforme o tempo em que são feitos:
- Simultâneo: Trata-se de uma só cirurgia para colocação de um implante da cada lado. É o que fazemos em muitas crianças, a partir dos 9 ou 12 meses de idade e proporciona audição binaural desde o início do desenvolvimento da linguagem, trazendo as melhores condições para aquisição da fala e adaptação ao ambiente escolar. Essa modalidade é quase um consenso mundial no caso da surdez pré-lingual em bebês e crianças.
- Sequencial: No implante bilateral sequencial, cada lado é operado numa cirurgia separada. O ponto chave nessa modalidade parece ser o tempo entre as duas cirurgias. Alguns estudos sugerem que um segundo implante, passado muito tempo da primeira cirurgia, pode ser difícil integrar os sinais dos implantes no nível cerebral. Assim acreditamos que quando se opta pelo IC bilateral sequencial, as duas cirurgias não devem ser separadas por mais do que um ano. Entretanto, essa não é uma recomendação formal e vários pacientes já se beneficiaram com o segundo implante anos depois do primeiro.
Pessoalmente, tendo a indicar o IC bilateral nos casos das crianças com surdez pré-lingual, como tentativa de otimizar o desenvolvimento e aquisição da linguagem.
Entretanto, nos adultos pós-linguais e já implantados, penso que devemos avaliar caso a caso, já que muitos podem se beneficiar do IC numa orelha e um AASI na outra.
É comum recebermos no consultório pacientes adultos que já têm um implante,e que vêm pedir opinião sobre a realização do segundo lado. Minha opção nesses casos acaba sendo pautada pelo nível de satisfação de cada um com o seu implante já realizado.
Penso que pessoas bem adaptadas, com audição satisfatória e sem queixas importantes devem permanecer como estão. Por outro lado, para os pacientes que não estão se saindo bem com um IC, implantar o segundo lado pode ser uma boa ideia.
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