Como cirurgião que realiza a cirurgia da otosclerose e trata pacientes com otosclerose há décadas, recebo muitas perguntas interessantes pelo Instagram. A otosclerose ainda traz inúmeras dúvidas de todos os tipos. Portanto, costumo abrir uma caixinha de perguntas naquela rede social para estar em contato mais direto com pacientes e leitores. Desse modo, consigo ajudá-los com mais informações.
Mas não esqueça: NADA substitui a consulta com um otorrinolaringologista, ok?
O que é Otosclerose?
A otosclerose (ou otospongiose) é uma doença considerada hereditária autossômica dominante de penetrância imcompleta e expressão variada.
A doença é hereditária por ser herdada dos pais aos filhos.
Autossômica quer dizer que os genes que carregam esse defeito não são aqueles que determinam o sexo da pessoa, sendo portanto uma doença que pode acometer tanto homens quanto mulheres.
O termo “dominante” (contrário ao termo “recessivo” na genética) quer dizer que basta que a pessoa herde um gene defeituoso da otosclerose, do pai ou da mãe (sem precisar ser dos dois) para que ele possa desenvolver a doença.
E por fim “de penetrância incompleta e expressão variada” nos diz que mesmo tendo alguém herdado esse gene defeituoso, ele não desenvolverá obrigatoriamente a doença, e nos que a desenvolvem, podem apresentar diferentes níveis de gravidade. Como se vê os termos da genética assustam mas no fim das contas fazem sentido e explicam bastante sobre a doença.
A cirurgia de otosclerose estabiliza a perda auditiva?
A estapedectomia é feita para resolver ou diminuir a perda auditiva condutiva, causada pela otosclerose. Quando bem feita e com um bom resultado, ela também impede que a perda decorrente da otosclerose do estribo progrida.
É possível estabilizar a Otosclerose?
Embora alguns medicamentos sejam usados em casos muito específicos, nenhum é comprovadamente eficaz ou aprovado para essa finalidade. Além disso, alguns medicamentos podem apresentar efeitos colaterais graves.
O que causa a Otosclerose?
A otosclerose é causada por predisposição genética, fatores hormonais, metabólicos, vasculares e o vírus do sarampo. Atualmente, essas são as causas mais conhecidas, e podem atuar em maior ou menor grau em cada caso.
Quais avaliações devem ser feitas para descobrir se posso fazer a cirurgida da Otosclerose?
A consulta com um cirurgião especialista, uma audiometria na qual se possa confiar e tomografia computadorizada de alta resolução em cortes finos. Infelizmente, toda semana recebo pacientes com otosclerose com audiometrias ERRADAS. É impossível fazer o tratamento certo avaliando uma audiometria errada. E também recebo muitos laudos incorretos de tomografias. É por isso que consultar um otorrino especialista no assunto é FUNDAMENTAL.
Qual exame comprova o diagnóstico de Otosclerose?
Diagnósticos são quebra-cabeças. Existem os fáceis e os difíceis. Quase sempre o diagnóstico é uma soma da história clínica (idade, progressão, herança) mais audiometria mais impedanciometria. Mas com o advento da tomografia computadorizada de alta resolução, esse se tornou o exame que realmente consegue ver a otosclerose, na maioria dos casos.
Tenho otosclerose, meu filho também terá a doença?
A otosclerose é uma doença complexa e tudo indica que ela tem diferentes causas. Porém, do ponto de vista geral e estatístico, o risco de alguém desenvolver otosclerose é de cerca de 25% quando um dos pais tem a doença e 50% no caso de os dois pais serem portadores.
Após a estapedectomia a surdez pode progredir?
A estapedectomia corrige uma das consequências da otosclerose, que é a rigidez do estribo. Mas não é uma cura. Em alguns casos, a evolução da doença pode acometer a cóclea, e causar surdez neurosensorial. O lado bom é que sempre temos alguma forma de melhorar a audição. Seja com aparelhos auditivos ou implante coclear.
Na otosclerose mista pode ser indicado implante coclear?
Poderia, caso a perda seja em grau severo a profundo e aparelhos auditivos não ajudem. Mesmo assim, em casos como esse pode haver indicação de se fazer uma estapedectomia para melhorar um pouco a audição e permitir o uso de aparelhos auditivos.
Na otosclerose coclear é indicado cirurgia?
Na otosclerose coclear, certamente não. Já na perda mista (em que há acometimento do estribo e também da cóclea) podemos indicar a cirurgia em casos bem selecionados.
Tenho otosclerose e uso aparelho auditivo. Posso perder audição após a cirurgia de estapedectomia?
Existem apenas três tipos de otosclerose: Fenestral (do estribo), Coclear (com perda auditiva neurosensorial) e Mista (uma soma das duas anteriores.
A possibilidade de perda auditiva existe de duas formas. Primeiro, a própria cirurgia pode causar a perda (isso é bastante incomum em mãos de cirurgiões experientes). Segundo, uma perda auditiva neurosensorial pelo acometimento coclear da doença ao longo dos anos (em cerca de 10% dos casos).
Na otosclerose mista pode ser indicado implante coclear?
Poderia, caso a perda seja em grau severo a profundo e aparelhos auditivos não ajudem. Mesmo assim, em casos como esse pode haver indicação de se fazer uma estapedectomia para melhorar um pouco a audição e permitir o uso de aparelhos auditivos.
A otosclerose é hereditária?
Uma grande parte dos casos de otosclerose é hereditário, mas não todos.
Como saber a hora certa de fazer a cirurgia de otosclerose?
Consideramos o estágio de desenvolvimento da doença e os resultados de alguns testes auditivos. É uma decisão que leva em conta a conjugação de algumas variáveis individuais. Por isso é fundamental consultar um otorrinolaringologista especialista em surdez.
Quem já fez a cirurgia de otosclerose sem sucesso pode fazer implante coclear?
A princípio, sim. Mas isso precisa ser avaliado meticulosamente através dos exames auditivos e de imagem. Temos vários pacientes implantados cocleares por otosclerose que acabaram perdendo a audição anos ou décadas após a estapedectomia. Mas esse não é o destino da maioria.
Alguma novidade científica sobre otosclerose?
Pequenas novidades marginais: a evolução das próteses de estapedectomia, o advento da cirurgia endoscópica com sua nova forma de visualização e o uso de medicamentos bifosfonados em casos muito bem selecionados. Mas ainda não temos nenhuma novidade nas últimas décadas que tenha mudado de forma decisiva a forma de tratar a otosclerose.
Existe otosclerose na infância?
Os casos de otosclerose na infância são mais que raros, são excepcionais!
Em algum momento a otosclerose estabiliza?
Como se trata de uma doença degenerativa, a tendência é que ela sempre avance. Mas isso ocorre em velocidades bem variáveis, podendo haver períodos longos sem piora relevante da audição.
Aparelhos auditivos retardam a otosclerose?
Não. A otosclerose é um processo degenerativo ósseo e o uso de aparelhos não faz nada por isso. Mas a reabilitação auditiva (por aparelhos ou cirurgias) é uma forma de prevenir uma série de complicações relacionadas à perda auditiva não tratada.
A otosclerose é hereditária?
Uma grande parte dos casos de otosclerose é hereditário, mas não todos.
Quem tem otosclerose deve usar alendronato sempre para evitar a piora?
NÃO. O alendronato tampouco deve ser utilizado em todos os casos de otosclerose.
Os alendronatos previdem que a otosclerose avance do estribo para a cóclea?
Os bifosfonados (classe de medicamentos do alendronato) são capazes de paralisar o metabolismo ósseo e assim impedir em grau variável o avanço da otosclerose e de outras doenças ósseas de caráter degenerativo. Entretanto, isso gera alguns riscos e o seu uso não está indicado de rotina.
Tenho otosclerose e o alendronato piorou minha audição
O mais provável é que sua audição tenha piorado pela progressão natural da otosclerose que o alendronato não foi capaz de impedir.
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