Avanços tecnológicos de equipamentos e programas, nanotecnologia, células tronco, engenharia genética, melhoria e simplificação no diagnóstico da surdez, evidência de bons resultados em pacientes menos surdos… Estes e outros fatores fazem que o tratamento da surdez e especialmente os implantes avancem a cada dia. Como os computadores, smartphones, televisores e demais equipamentos eletrônicos, a profusão de novos modelos, mais funcionais e eficazes que os anteriores, torna também os implantes cocleares dispositivos que não param de evoluir. E a velocidade dessa evolução só faz acelerar. Como se posicionar enquanto paciente? Como e quando vale a pena esperar o lançamento de um novo modelo como se espera por um telefone ou um carro do modelo novo para comprar? Quando não vale a pena esperar?
Não haverá consenso nesse tópico e procuro apresentar meu ponto de vista pessoal, que certamente não resolve o dilema de todos os pacientes. Decisões desse nível carecem da participação de várias pessoas, pesquisas, e em última análise, a decisão pessoal de cada paciente ou família envolvida.
A seguir enumero alguns dos avanços mais aguardados e esperados e minha visão pessoa de cada um deles.
- IC totalmente implantável: o desenvolvimento de um implante coclear que seja inteiramente implantado na orelha, sem unidade externa (sem aparelho aparente), não é mais ficção, nem promessa. Embora ainda não esteja disponível comercialmente em nenhum país do mundo, alguns fabricantes já possuem, em caráter experimental, pacientes usando este tipo de aparelho. Entretanto dois problemas ainda impedem que o IC totalmente implantável se torne uma realidade imediata, o microfone e a bateria. Ainda estamos caminhando no desenvolvimento de um microfone “interno”, que consiga captar todos os sons externos sem que os nossos sons internos (deglutição, fala, batimento do coração, respiração) se tornem um pesadelo. Já há outros modelos de prótese implantáveis (não cocleares) que se valem dessa tecnologia. Quanto a bateria, embora já seja possível carregar bateria por tecnologia sem fio, um sistema tão complexo como o IC requer que ela seja potente e tenha vida muito longa, mesmo que valendo-se de recargas. Ambos problemas serão resolvidos em algum momento mas não é possível sabe quando estarão disponíveis para o uso na prática.
- Nanotecnologia: Apesar de atrair menor atenção do público em geral se comparado às células tronco, o desenvolvimento de nanopartículas para melhorar o desempenho dos implantes é algo em andamento em muitos centros de pesquisa da Europa e dos EUA. A ideia é que essas nano estruturas possam ser introduzidas através de implantes cocleares com canais específicos para aplicação de medicamentos, gerando melhoria nos neurônios da via auditiva, com consequente melhora do desempenho auditivo em vários níveis, como para ouvir música, por exemplo.
- Células tronco: As células tronco são destaque no noticiário de saúde de todo o mundo há vários anos. A ideia de transformá-las em qualquer tipo de tecido ou órgão lesado é simples e fácil de ser assimilada pela imprensa e a população em geral. Enquanto tais células já encontram alguma aplicação prática em certas áreas da medicina, para a reabilitação auditiva especificamente isso já acontece em estudos com cobaias, em laboratórios. Para a aplicação prática em humanos, ainda esperaremos vários anos até que possamos refazer as células ciliadas da cóclea dos nossos pacientes.
- Engenharia genética: A possibilidade de alteração do nosso código genético é algo muito promissor. Diversos estudos, inclusive em pacientes surdos, vêm obtendo sucesso utilizando material genético injetado em organismos dentro de capsulas virais inativadas, com o intuito de alterar ou corrigir o funcionamento de determinadas células ou órgãos. Dentro da cóclea, esse material genético poderá aumentar a produção de novas células ou ativar conexões neurais danificadas.
- Aumento das indicações: Aqui falamos do avanço relacionado a pesquisas clínicas e nem tanto o desenvolvimento tecnológico. Quando o IC surgiu há cerca de 30 anos, ele estava apenas indicado para pacientes com surdez profunda bilateral, ou seja para pacientes com surdez completa e incapazes de ouvir qualquer som com aparelhos auditivos. Ao longo dessas décadas, principalmente dos últimos 10 anos, a observação e pesquisas clínicas vem demonstrando que pacientes com graus monores de surdez podem se beneficiar mais do IC do que de aparelhos auditivos e isso vem representando um aumento importante no público alvo a ser implantado. Assim, a melhora progressiva nos resultados do IC vem fazendo com que também pacientes com perda auditiva de moderada a severa e que não tenham bom desempenho com AASI, possam ser candidatos.
- Surdez Unilateral: Há muitas pessoas portadoras de surdez profunda (completa) em apenas um ouvido, com audição normal no outro. Enquanto alguns podem ter nascido assim, outros chegam a essa condição após doenças como tumores do ouvido, surdez súbita, doença de Ménière, entre outros. Nesses casos temos aparelhos auditivos e outros tipos de implantes disponíveis para tratamento. Entretanto, vários centros de pesquisa mundiais têm se dedicado a estudar a aplicação do implante coclear na surdez unilateral. A melhora da tecnologia e a progressiva simplificação do procedimento cirúrgico pode fazer com que, no futuro, o IC seja a melhor opção para a recuperação da audição binaural (bilateral).
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