Poucas doenças são, ao mesmo tempo, tão bem e mal conhecidas por médicos e pacientes quanto a sinusite. Frequentemente usada como sinônimo de “dor de cabeça“, a sinusite é a escolha preferencial de muitas pessoas para auto-diagnosticar suas crises recorrentes de enxaqueca. Aqui nesse artigo escrito em 2015 explico melhor a diferença entre as duas situações.
Como médicos, é comum que também exageremos na dose do diagnóstico, especialmente em ambientes de emergência. Diariamente, um número enorme de pacientes com gripes, resfriados e crises alérgicas buscam atendimento nas unidades de emergência. Muitos deles acabam sendo submetidos a uma radiografia dos seios da face e erroneamente diagnosticados e tratados com antibióticos para uma suposta sinusite bacteriana. A maioria das pessoas acaba melhorando sem desconfiar que sua cura nada teve a ver com o antibiótico, já que essas infecções virais curam-se espontaneamente na imensa maioria das vezes.
A maior arma contra esses excessos deve ser a informação. Entender o que é a sinusite e quais suas possíveis causas é fundamental para o diagnóstico e tratamento adequados.
O que é Sinusite?
A palavra “sinus” em latim quer dizer “seio”, e dá origem ao termo seio da face. Pela Nomina Anatomica atual, seu nome correto é cavidade paranasal. Como seu nome indica, essas cavidades dispõem-se em 4 pares (frontal, etmoide, esfenoide e maxilar) ao redor da cavidade nasal e se comunicam com esta através de pequenos ductos, que chamamos de óstios.
O termo sinusite (sufixo ite, do grego, indica inflamação) é usado para designar qualquer atividade inflamatória das cavidades paranasais, especificamente da mucosa que a forra internamente. Esse conceito é muito importante, pois há diferentes tipos de inflamações, podendo ter origem alérgica, imunológica ou infecciosa. Essa última pode ser causada por vírus, bactérias ou fungos. Então, do ponto de vista prático, precisamos saber qual a origem dos sintomas da pessoa que estamos avaliando.
Sintomas e Causas da Sinusite
Posicionei nos quadros os sintomas e as causas mais comuns de sinusite, por ordem decrescente de frequência.
Causas mas comuns de Sinusites |
Pólipos nasais |
Desvio do septo nasal |
Rinite alérgica |
Infecções virais das vias aéreas |
Refluxo gastroesofágico |
Diagnóstico da Sinusite
Essa é a parte mais importante deste artigo. Como em todas as situações médicas (e na vida em geral!), sem um diagnóstico adequado, nossas ações (ou o tratamento) tendem a ser incorretas. Na grande maioria das vezes, o diagnóstico dos diferentes tipos de sinusite pode ser feito clinicamente, sem necessidade de exames de imagem.
Nós otorrinolaringologistas usamos de rotina alguns métodos endoscópicos de fácil realização em todas as idades. A possibilidade de “entrar” na cavidade nasal com pequenas fibras ópticas ligadas as câmeras de alta definição permite que visualizemos as diferentes regiões do nariz em detalhes, em bisca de secreções e outros sinais de inflamação. Entretanto, mesmo num atendimento de emergência com o clínico ou pediatra, é possível fazer o diagnóstico baseado na história clínica, sintomas e exame físico geral.
O uso de radiografias, tão comum no dia a dia da emergência, não deve ser feito de rotina. Acontece que esse exame oferece carga de radiação ionizante ao paciente e possui um alto índice de falso positivo, apresentando uma relação custo-benefício desfavorável ao seu uso rotineiro. Sua indicação deveria ser reservada para casos incertos e arrastados, quando o diagnóstico clínico ou endoscópico não é possível.
Nos casos de sinusites crônicas ou recidivantes, a tomografia computadorizada é uma excelente ferramenta na busca de anomalias anatômicas ou estruturais.
Tipos de Sinusite
Após a correta avaliação de cada caso, podemos classificar a sinusite segundo sua causa, localização e duração.
A causa nos permite classificar a sinusite na maioria das vezes como alérgica, viral, fúngica, bacteriana.
A localização refere-se às cavidades paranasais acometidas pelo processo inflamatório em andamento, podendo ser etmoidal, maxilar, esfenoidal e frontal. Vale ressaltar que os sintomas mais comuns podem variar conforme as cavidades acometidas.
A duração do sintomas nos permite classificar a sinusite em aguda (menos 1 mês), sub-aguda (1-3 meses) ou crônica (mais de 3 meses). Podemos acrescentar as sinusites de repetição, quando quadros agudos se repetem 3 ou mais vezes por ano.
Tratamento da Sinusite
Os métodos de tratamento da sinusite buscam aliviar os sintomas e curar o processo, eliminando suas causas. Na dependência do tipo de sinusite conforme descritos acima, as opções de tratamento DA SINUSITE costumam ser:
- Lavagem nasal com solução salina (soro fisiológico): Ajuda a manter as cavidade nasal limpa, diminuindo a reação inflamatória da mucosa, principalmente nos óstios de drenagem das cavidades paranasais.
- Uso de corticoides orais e tópicos: O corticoide age como um potente anti-inflamatório e tem um papel de destaque nas sinusites, principalmente nas de origem alérgica ou na presença de pólipos nasais.
- Antibióticos: Estão indicados no casos de sinusites agudas bacterianas. Seu uso tende a ser exagerado, mas quando corretamente aplicados e escolhidos, torna-se uma arma poderosa na cura da sinusite. Um fato importante é que o uso de antibióticos na sinusite bacteriana tende a ser feito por um período bem maior (até 14-21 dias) do que para a maioria das doenças bacterianas, como pneumonias ou da via urinária, por exemplo.
- Cirurgia: Embora a cirurgia para as sinusites crônicas tenha uma história de décadas, ela sofreu uma grande evolução nos últimos 15 anos. O aparecimento das fibras ópticas fez nascer a cirurgia endoscópica funcional do nariz (conhecida como FESS, em inglês). O aprimoramento da FESS nos permite hoje realizar cirurgias muito mais seguras, precisas e com melhores resultados. O pós-operatório tende a ser indolor, de forma muito diferente das cirurgias mais agressivas realizadas 20 anos atrás.
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