Como médico otorrinolaringologista com foco total em surdez e cirurgias da audição, presencio todos os dias o quão crítico é o sentido da audição para o nosso bem-estar geral. A audição vai muito além de ser apenas um modo de detectar sons: ela é uma parte essencial da nossa capacidade de comunicação, de navegar em nosso ambiente e de nos conectar com outras pessoas num nível mais profundo. A perda auditiva tem um impacto significativo na qualidade de vida de qualquer pessoa porque torna difícil participar de atividades sociais, se comunicar efetivamente e até mesmo realizar tarefas cotidianas sem precisar de ajuda.
Para aqueles que experimentam perda auditiva, há muitas opções de tratamento disponíveis, incluindo aparelhos auditivos, implantes cocleares e outros dispositivos assistivos. Esses dispositivos podem melhorar significativamente a capacidade de comunicação de uma pessoa e sua interação com o mundo ao seu redor, reduzindo o isolamento (que pode acabar levando à depressão) e melhorando a qualidade de vida geral.
A SURDEZ AFETA MILHÕES DE PESSOAS NO MUNDO INTEIRO: 1,5 bilhão de pessoas têm perda auditiva
Viver com uma perda auditiva não tratada pode ser – e na maioria das vezes, é – uma experiência frustrante que afeta o bem-estar mental, emocional e físico de uma pessoa, além de sua capacidade de se comunicar com os outros. Existem três tipos de perda auditiva: surdez condutiva, sensorioneural e mista.
A cegueira nos afasta das coisas. A surdez nos afasta das pessoas. (Helen Keller)
Os desafios de viver com surdez não tratada
Independentemente do tipo de perda auditiva, os desafios de viver com ela são os mesmos, e um dos maiores de uma pessoa com qualquer grau de surdez é a comunicação. As pessoas com perda auditiva têm dificuldade para ouvir e entender o que os outros estão dizendo. Isso pode levar a mal-entendidos, frustração, vergonha e isolamento social.
Outro desafio é o estigma que muitas vezes acompanha a perda auditiva. Muitas pessoas com perda auditiva demoram anos para procurar ajuda porque sentem vergonha de admitir que são surdas, é difícil admitir que você ouve mal quando você foi ensinado – pela família e pela sociedade – a sentir constrangimento por causa disso. Esse estigma pode impedir que as pessoas obtenham a ajuda necessária para gerenciar sua perda auditiva de forma eficaz.
Além da comunicação e do estigma, há outros desafios associados à perda auditiva. Por exemplo, as pessoas com perda auditiva não tratada têm a sua segurança e até a sua independência comprometidas. Não ouvir alarmes, campainhas, batidas na porta, tiros ou outros sinais de aviso é muito perigoso. Outro desafio clássico da perda auditiva envolve a dificuldade em ouvir em ambientes barulhentos, como restaurantes ou salas de aula. Isso torna as situações sociais extremamente desafiadoras e pode contribuir para sentimentos de isolamento e solidão.
RELATOS de pessoas com surdez: depoimentos de quem tem perda auditiva
Eu sou médico otorrino e ouvinte, e, por isso, acredito que seja FUNDAMENTAL que os pacientes com perda auditiva leiam relatos de pessoas que convivem com a surdez há mais tempo. São inúmeras dúvidas, anseios e perguntas técnicas sobre aparelhos auditivos e implante coclear que surgem após a vinda no consultório. Você pode ler esses relatos de pessoas com surdez aqui, e também pode se tornar membro de uma comunidade online de pessoas com perda auditiva (e trazer as amizades feitas na internet para o mundo real)
Fazer parte de uma comunidade de iguais pode fazer toda a diferença na melhoria da qualidade de vida de quem tem algum grau de surdez, porque significa estar cercado por pessoas que entendem os desafios e dificuldades da convivência diária com o uso de próteses auditivas. A sensação de camaradagem e experiência compartilhada é incrivelmente poderosa. Uma rede de apoio formada por pessoas que vivem na pele diariamente os desafios da deficiência auditiva é algo transformador e enriquecedor, e recomendo fortemente aos meus pacientes que busquem isso, pois fazer parte de uma comunidade de cria senso de pertencimento e ajuda a combater o isolamento e a solidão.
Além disso, fazer parte de uma comunidade de iguais também fornece acesso a recursos e informações valiosas. Os membros podem compartilhar conselhos, recomendar produtos e fornecer orientações sobre como navegar no mundo com perda auditiva. Isso pode incluir informações sobre as últimas tecnologias de aparelhos auditivos, estratégias de comunicação, direitos e opções de acessibilidade em vários ambientes.
Isso pode fazer uma grande diferença na sua vida daqueles se você tem perda auditiva. Uma rede de apoio e suporte emocional ajuda demais a percorrer a estrada da surdez.
O CLUBE DOS SURDOS QUE OUVEM: novos relatos de pessoas com surdez todos os dias
A sua jornada da surdez não precisa ser solitária e desinformada! Para que ela seja mais leve, simples e cheia de amigos, a escritora Paula Pfeifer, criadora do site Crônicas da Surdez, também criou o Clube dos Surdos Que Ouvem. No Clube, você terá acesso a novos relatos de pessoas com surdez todos os dias, além de acesso comunidades digitais (grupos no Facebook e no Telegram) e conteúdos exclusivos. São 21 mil usuários de aparelhos auditivos e implante coclear com os mais diferentes tipos e graus de surdez para você conversar e tirar suas dúvidas a respeito do universo da deficiência auditiva (direitos, aparelhos, médicos, fonos, implante, concursos, etc). Se você for mãe ou pai de uma criança com perda auditiva, uma das comunidades digitais do Clube é um Grupo de Telegram com centenas de famílias se ajudando mutuamente todos os dias. O Clube dos Surdos Que Ouvem é o grupo de surdos que mais vem transformando vidas no Brasil.
