Para começar a entender a surdez em agudos, pense no teclado de um piano. Quase cem teclas dispostas lado a lado. Na extrema esquerda estão os sons são graves, parecidos com o som de um trovão ou de um bumbo.
Bem à direita, são sons finos, mais fracos ou agudos, como o tom de uma campainha, do grito de uma criança ou as notas de um violino. Entre esses dois extremos, os sons de cada tecla vão sofrendo mudanças no tom, do grave ao agudo (da esquerda para a direita), ou dos agudos para os graves (da direita para a esquerda).
Alguém que sofra de uma surdez apenas em agudos pode ser capaz de ouvir perfeitamente o som das teclas à esquerda, mas terá muita dificuldade para ouvir os tons oriundos das teclas bem à direita, de som agudo.
Esse fenômeno priva a pessoa de parte das informações importantes na compreensão completa de uma mensagem sonora, seja musical ou vocal.
Para alguém com surdez dos agudos, ouvir um pianista tocando seria assim: Ouviria bem enquanto ele dedilha as teclas da esquerda, mas ao caminhar com os dedos para a direita, o som diminui, ou desaparece.
CAPACIDADE AUDITIVA HUMANA
Medimos a frequência nos sons em hertz (Hz). O ouvido humano é capaz de detectar sons que possuem entre 20 e 20.000hz. Os tons abaixo de 20hz acima de 20.000hz são imperceptíveis para os humanos e recebem o nome de infrassons e ultrassons, respectivamente. Essa faixa de frequência varia dentre as espécies, como se pode ver no gráfico.
O funcionamento da cóclea humana obedece a uma distribuição gradual de frequência, de forma semelhante ao piano, fenômeno que chamamos de tonotopia. Partindo da sua arquitetura em forma de concha, ou caracol, as células ciliadas responsáveis pela captação de sons agudos se posicionam em sua base, enquanto aquelas que se ativam pelos sons mais graves se encontram em seu ápice.
FREQUÊNCIA DA FALA HUMANA
A voz humana é bem mais complexa do que os sons de um piano.
Enquanto no piano há uma tecla para cada frequência, a produção da voz envolve o pulmão, o diafragma, a laringe e suas pregas vocais, além das estruturas responsáveis pela articulação da fala, como a língua, o palato, os dentes.
Assim, apesar da fala apresentar outras características, como articulação, ritmo, potência, ela também tem um espectro de frequência. A voz masculina tende a ser mais grave do que a feminina.
Enquanto a maior parte dos elementos sonoros da fala possuem frequências graves (de 100 a 1000hz), alguns fonemas e algumas vozes podem alcançar 3.500hz.
POR QUE A SURDEZ EM AGUDOS ACONTECE?
Um grande número de casos de surdez se apresenta com uma perda de audição para os sons agudos.
O exemplo mais típico é a presbiacusia, surdez que surge com a idade. Nesses casos, especula-se que que as células ciliadas da base e responsáveis pelos agudos, estando próximas à “entrada” da cóclea, ficariam mais sujeitas às agressões externas.
Entretanto existem outras causas possíveis como a surdez em agudos de origem genética.
QUAIS OS SINTOMAS DA SURDEZ EM AGUDOS?
Diferentemente dos portadores da surdez que acomete todas as frequências, os surdos em agudos ouvem grande parte dos sons, sendo comum que eles levem tempo para perceber que há algo de errado.
Para alguns, o zumbido pode ser o primeiro sintoma, mas na maioria dos casos a maior é a dificuldade de compreensão da fala.
Assim como o surdo em agudos pode ouvir os sons de algumas teclas do piano, mas perderá os sons de outras, a compreensão ficará bastante prejudicada pela incapacidade de perceber certos elementos sonoros da fala.
Esse fenômeno gera uma queixa bastante comum nos consultórios: “Eu escuto, mas não entendo”.
TRATAMENTO DA SURDEZ EM AGUDOS
O maior desafio no tratamento desses casos é o paciente se convencer que ele ouve mal. É comum (e compreensível) que os surdos em agudos valorizem mais os sons que eles ouvem (graves) dos que os agudos que não ouvem. Nesse sentido, é muito importante que médicos e fonoaudiólogos sejam capazes de explicar os prejuízos envolvidos nesse tipo de surdez e quais as possibilidades de tratamento. Vencida esta barreira, os resultados na reabilitação dos surdos em agudos tende a ser muito bom.
Nos casos de surdez em agudos de gravidade leve, moderada, ou mesmo severa, os aparelhos auditivos frequentemente podem proporcionar uma boa compensação através da amplificação específica das frequências atingidas.
Quando não conseguimos uma melhora satisfatória na compreensão da fala com os aparelhos, ou no caso de surdez em agudos de grau severo a profundo, o implante coclear está indicado.
Nos últimos anos, temos disponíveis os implantes cocleares híbridos (que podem funcionar ao mesmo tempo como aparelhos auditivos comuns e como implantes cocleares). Também temos aplicado técnicas de preservação auditiva (soft surgery), na tentativa de preservar a audição em graves durante a cirurgia.
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Relato de paciente com surdez em agudos
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