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As maiores novidades sobre SURDEZ direto do ESPCI 2025

novidades sobre surdez

Da neuroplasticidade à busca pela cura da surdez, passando pela cirurgia robótica e o implante invisível. Um resumo exclusivo de tudo que foi apresentado no maior evento de reabilitação auditiva do mundo em Hannover, na Alemanha, em junho de 2025, explicado em detalhes pelo Dr. Luciano Moreira, otorrino.

Acabo de voltar de Hannover, na Alemanha, onde participei do ESPCI 2025, que atualmente é o maior e melhor evento no mundo do implante coclear e das tecnologias auditivas. É nesses encontros que a gente sente o pulso do futuro, onde as pesquisas que hoje parecem ficção científica começam a se tornar a realidade dos nossos consultórios e centros cirúrgicos.

E o que eu vi por lá me deixou ainda mais animado. A mensagem foi clara: o tratamento da surdez está evoluindo para algo muito mais complexo e profundo. Estamos entrando em uma nova fase, que se move em dois caminhos fascinantes: a da reparação biológica e a da integração tecnológica total.

O tratamento para surdez profunda está passando por uma revolução, e eu quero compartilhar com vocês um resumo do que vi de mais impactante nesses três dias intensos de congresso.

As NOVIDADES sobre SURDEZ em 2025: um resumo do ESPCI 2025 na Alemanha

 

Neuroplasticidade e o cérebro em desenvolvimento: As lições de Andrej Kral

Antes de falar das tecnologias do futuro, precisamos entender o “terreno” onde elas vão operar: o cérebro. A aula do pesquisador Andrej Kral foi um lembrete poderoso sobre isso. Ele nos mostrou, com uma clareza ímpar, que a surdez congênita não é um problema apenas do ouvido, mas do cérebro inteiro.

O cérebro de um bebê é como uma massinha de modelar, e os sons do ambiente são as mãos que o moldam. Durante o chamado “período crítico”, que vai do nascimento até por volta dos 3 ou 4 anos, o cérebro cria uma quantidade absurda de conexões (as sinapses neurais). O som fortalece as conexões auditivas úteis, enquanto as que não são usadas são “podadas”, ou seja, eliminadas. Na ausência de som, essa poda é muito mais agressiva no córtex auditivo, e o cérebro perde parte do seu “poder computacional” para a audição.

E o mais mais chocante é que esse impacto vai além da linguagem. Kral mostrou que a privação auditiva, por si só, está ligada a déficits cognitivos, dificuldades de aprendizado e até hiperatividade, mesmo em animais que não têm linguagem. Isso significa que a neuroplasticidade cerebral depende do som para um desenvolvimento global saudável. A conclusão é uma só: agir cedo com a reabilitação auditiva não é apenas para a criança falar; é para dar a ela a melhor chance de um desenvolvimento cerebral completo.

A era da audição biônica: Preservação auditiva e cirurgia de precisão

Uma das palestras mais pragmáticas e impactantes foi a do Dr. Bruce Gantz, da Universidade de Iwoa, e um dos pioneiros do Implante Coclear nos Estados Unidos. Ele lembrou a todos que o desempenho médio de pacientes com implante coclear elétrico, em situações de ruído, não melhora significativamente há décadas. O verdadeiro salto de performance acontece quando conseguimos fazer algo que antes parecia impossível: a preservação auditiva funcional durante a cirurgia do implante.

Preservar os restos de audição que o paciente tem, especialmente nas frequências graves, oferece ao cérebro uma informação sonora muito mais rica, com detalhes que o implante sozinho não consegue entregar. Isso se traduz em uma melhora brutal na capacidade de ouvir no ruído e na qualidade sonora percebida.

Mas como conseguir isso?

  •  Cirurgia robótica para Implante Coclear: O Dr. Gantz mostrou dados claros de que a cirurgia assistida por robô permite uma inserção do eletrodo com força mínima e velocidade ultralenta, algo que a mão humana não consegue replicar. O resultado? Menos trauma na cóclea e maiores taxas de preservação auditiva.
  •  Eletrodos que liberam esteroides: Uma das grandes vilãs da perda auditiva após a cirurgia é a resposta inflamatória do corpo, que gera fibrose dentro da cóclea. A solução que está chegando são eletrodos que liberam dexametasona continuamente. Estudos em animais mostraram uma redução drástica da inflamação, e os primeiros dados em humanos mostram que as impedâncias elétricas se mantêm muito mais baixas, um sinal de menor reação tecidual.

A lógica é reforçada pela aula de Stephen O’Leary, que demonstrou que a saúde do nervo auditivo é um dos fatores mais críticos para o sucesso do Implante Coclear. Ao preservar a estrutura da cóclea e diminuir a inflamação, estamos, na verdade, protegendo o nervo e dando a ele as melhores condições para trabalhar com o implante.

Terapia gênica, celular e regeneração auditiva: em busca da cura da surdez

Se a otimização biológica refina o presente, um outro grupo de cientistas está focado no objetivo que muitos pacientes e famílias anseiam: a cura da surdez. Esta frente de pesquisa não busca mais “burlar” a perda auditiva, mas sim reparar a biologia da orelha em seu nível mais fundamental.

E as notícias do ESPCI 2025 continuam a trazer esperança.

  • O Fio (Nervo Auditivo): Vimos que é possível estimular a regeneração do nervo auditivo. O uso de “adubos” para o nervo, as neurotrofinas (como BDNF e NT-3), já se mostrou capaz de fazer os dendritos (as “raízes” do neurônio) crescerem novamente em animais e até mesmo em um primeiro estudo em humanos, resultou em uma necessidade muito menor de corrente elétrica para estimular o nervo, um sinal de que ele está mais saudável ou mais próximo do eletrodo. Indo além, a terapia celular com células-tronco, apresentada por Douglas Hartley, está prestes a iniciar testes clínicos para repor os próprios neurônios auditivos perdidos.
  • O Código (Genética): Para muitas formas de surdez hereditária, a terapia gênica para surdez é a grande promessa. O Dr. Hinrich Staecker apresentou uma abordagem revolucionária para entregar a ferramenta de edição genética CRISPR-Cas9: em vez de usar vírus, ele “empacota” a tesoura molecular em vesículas extracelulares, uma espécie de “micro-drone” que o próprio corpo produz. Em camundongos com uma forma de surdez progressiva, essa técnica conseguiu preservar a audição.
  • Os Sensores (Células Ciliadas): E as células que captam o som, as células ciliadas? Por décadas, o dogma era que, em mamíferos, elas não se regeneravam. A Dra. Angelika Doetzlhofer mostrou que esse dogma caiu. Já é possível, em laboratório, forçar outras células da cóclea a se transformarem em novas células ciliadas, mesmo em animais adultos. O desafio gigantesco, ela admite, é que essas novas células ainda não “amadurecem” completamente e, por enquanto, a audição não é restaurada. A porta, no entanto, foi aberta.

O Implante Coclear totalmente implantável (TICI): promessa e cautela

Paralelamente à revolução biológica, corre a revolução da tecnologia. E aqui, a apresentação do Dr. Joachim Müller sobre o implante coclear totalmente implantável (TICI) da MED-EL foi o centro das atenções numa sala lotada.

A promessa é uma mudança radical na qualidade de vida: imagine poder ouvir perfeitamente debaixo do chuveiro, mergulhando na piscina, praticando esportes de capacete, sem se preocupar com nenhum aparelho externo. O que tornou essa apresentação especial foi o relato de um resultado surpreendente: em um estudo inicial de viabilidade, o desempenho de fala dos pacientes com o TICI foi equivalente ao de um implante com processador externo convencional.

Confesso que como médico atento ao rigor científico, vejo com um otimismo cauteloso. É fundamental entender que esta foi uma apresentação de um estudo inicial, com um número muito pequeno de pacientes. Além disso, como é comum nesta fase, o estudo foi patrocinado pela empresa que desenvolve o dispositivo.

Isso não invalida os resultados, de forma alguma. Apenas significa que este é um primeiro passo incrivelmente promissor. A comunidade científica agora aguarda, com enorme expectativa, por mais dados, de mais pacientes e de outras equipes independentes, para confirmar essa promessa.

Conclusão: o melhor dos dois mundos

Seja otimizando a tecnologia que temos para resultados biônicos, seja pesquisando o caminho para a cura da surdez no futuro, uma coisa ficou clara neste congresso: o campo da reabilitação auditiva está mais dinâmico e esperançoso do que nunca.

O futuro do implante coclear não é um caminho único, mas uma avenida de múltiplas pistas. E a nossa responsabilidade, hoje, é fazer o nosso melhor com as ferramentas que já temos. Realizar o diagnóstico precoce, indicar a reabilitação o mais rápido possível e usar as melhores técnicas disponíveis é o que garante que nossos pacientes — crianças e adultos — cheguem a esse futuro com um cérebro saudável e preparado para colher os frutos de todas essas revoluções que estão por vir.

 

DICA DO DR. LUCIANO MOREIRA: se você tem perda auditiva, otosclerose, zumbido no ouvido, usa aparelho auditivo ou implante coclear, conheça o CLUBE dos Surdos Que Ouvem, criado pela escritora Paula Pfeifer, do site Crônicas da Surdez. Os grupos do Clube vêm ajudando a transformar milhares de vidas desde 2010. Estar em contato direto com outras pessoas que têm deficiência auditiva é algo que vai ajudar muito a sua jornada da surdez. E, se você precisa comprar aparelho auditivo e está cheio de dúvidas, essas AULAS vão ser de grande valia.

 

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Dr. Luciano Moreira otorrino

Dr. Luciano Moreira – CRM-RJ 65192-3

Médico Otorrinolaringologista especializado em cirurgias da audição

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