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A SURDEZ E O CÉREBRO: Reativando o Cérebro com Tecnologia

como tratar a surdez deficiência auditiva

A surdez está intimamente relacionada com o seu cérebro. Talvez você já tenha lido por aí que quem ouve é o cérebro – e é mesmo! O assunto plasticidade cerebral não é novo. Segundo o conceito extraído das pesquisas, o córtex cerebral (com suas células de suporte e seus neurônios conectados por trilhões de sinapses) está em constante transformação e adaptação.

Essas transformações são guiadas por estímulos externos e internos, isto é, pela experiência e pela motivação. São muitos os estudos que relacionam a perda de audição com os fenômenos plásticos do cérebro.

Os dados obtidos dessas pesquisas mostram que o cérebro se transforma tanto com a privação sonora decorrente da surdez, quanto com o restabelecimento do estímulo auditivo com os aparelhos e os implantes cocleares.

Essas observações são fundamentais para definir a estratégia de tratamento e reabilitação de forma individualizada.

A SURDEZ E O CÉREBRO: consequências cerebrais da surdez

O sistema auditivo deve ser visto como uma estrada, ou como costumamos dizer, uma via; a via auditiva.

Esta estrada auditiva une a orelha ao cérebro, num trajeto anatômico e funcional complexo, onde tudo deve funcionar para uma audição de boa qualidade. Na linha de chegada da estrada da audição estão nossas áreas auditivas do córtex cerebral, onde os impulsos elétricos são processados.

Parte do mecanismo linguístico envolve a compreensão desses sinais. Enquanto o ouvido e a via auditiva encaminham os estímulos para o cérebro, nesse caminho eles ainda são apenas impulsos elétricos, seja qual for a fonte que emitiu o som.

É apenas no córtex cerebral onde esses impulsos serão identificados como o choro de uma criança, a buzina do automóvel ou a voz de uma pessoa conhecida, por exemplo. Por isso costumamos dizer que quem ouve não é o ouvido, mas o cérebro.

O aparecimento da surdez decorre de uma falha na via auditiva. 

Essa falha pode ocorrer em um ou mais níveis ao longo da estrada e faz com que sinais mais fracos cheguem ao córtex auditivo. Em alguns casos esses impulsos podem chegar “danificados”, fazendo com que o cérebro tenha dificuldade em compreende-los.

A privação de impulsos elétricos na intensidade e qualidade normais por parte das áreas auditivas do cérebro inicia um processo neuroplástico nessas regiões.

Algumas dessas áreas começam a se atrofiar e outras passam a assumir funções diferentes. É a plasticidade cerebral atuando diante da surdez, adaptando o cérebro para um cenário em que a audição vai perdendo importância.

No caso de privações mais acentuadas e prolongadas de estímulos, o cérebro pode literalmente “encolher”. Nesse cenário, há um risco maior de doenças degenerativas do cérebro, especialmente as demências, como a doença de Alzheimer.

A Plasticidade Neural após a Reabilitação Auditiva

Ainda em 2015 comentei aqui os achados de uma estudo francês que relacionava o uso de aparelhos auditivos a diminuição de danos cognitivos em pacientes com perda auditiva.

Embora esteja claro que a reabilitação auditiva com AASI ou implante coclear ajude a preservar a saúde mental, há mais uma forma importante de encarar o processo de reabilitação auditiva: o da plasticidade dos centros auditivos do córtex cerebral.

Pacientes e profissionais habituados ao processo de adaptação de AASI e IC conhecem a necessidade de “ir com calma” e sem muita expectativa no começo.

Com frequência, a ativação do implante e a estreia com um aparelho não são momentos agradáveis. De rotina, esses dispositivos são calibrados com “baixa potencia”, para não causar um desconforto além do tolerável nos primeiros momentos.

Essa estratégia se justifica porque os centros auditivos cerebrais precisam de tempo para se remodelarem. A reativação ou a intensificação do tráfego de impulsos neurais pela via auditiva encontra esses centros despreparados.

A partir daí, os impulsos recém chegados passam a ativar uma série de eventos neuroquímicos. Inicia-se a produção de fatores de crescimento neurais, e a formação de novas conexões neuronais, chamadas sinapses.

Durante meses, ou mesmo anos, esse processo segue, melhorando a performance auditiva ao longo do tempo.

3 FATORES DE MELHORA:

  1. A melhor calibragem dos aparelhos auditivos e mapeamento do implante coclear  possível, e feita com a frequência adequada.
  2. A motivação a o investimento do paciente em treinamento auditivo, seja com sessões de fonoaudiologia, seja no seu dia a dia, nos diversos cenários auditivos.
  3. O tempo: pacientes implantados continuam melhorando a discriminação da fala muitos meses após os implantes, mesmo com uma menor frequência na mudança dos mapas.

A LINGUAGEM HUMANA E O CÉREBRO

Enfim, a linguagem humana é a mais sofisticada de todas as habilidades cerebrais. Se precisamos de treino e perseverança para  jogar xadrez ou aprender matemática, imagine para se comunicar?

Sua habilidade auditiva depende mais do que nunca de você.

OBS: este post foi originalmente publicado em agosto de 2016.

 

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Dr. Luciano Moreira otorrino

Dr. Luciano Moreira – CRM-RJ 65192-3

Médico Otorrinolaringologista especializado em cirurgias da audição

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